sábado, 28 de fevereiro de 2009

Astúrias, reino da criação dos sonhos (Agosto de 2004)





Foi a nossa 21ª viagem, mas deveria ter sido a primeira, já que foi lá que nasceu o sonho de viajar de casaascostas, em cima de umas rodas que nos levassem a ser donos de um quintal, mata, praia, relva ou passeio, a norte, sul, este ou oeste, consoante a brisa, o sol ou outras estrelas.




3 de Agosto
Primeira paragem em Candeleda, pueblo típico espanhol, da província de Ávila, Castela e Leão. As ruas típicas, as portas largas, o micro-clima, o ar puro da montanha que escorre neve e ar fresco pelas ladeiras de pedra, tudo tem um toque que convida a ficar, o toque especial de La Vera.
Pernoita em Salamanca no camping de sempre, para um relax na piscina e um passeio nocturno à cidade imponente e viva.
4 de Agosto
De Salamanca a Arenal de Moris, uma directa amena e nas calmas. Optámos por um camping, onde uns amigos (os mesmos da tenda da viagem a França/Alemanha) já esperavam por nós.
Chovia, o que no seio do verde asturiano (e com um misto de arturiano celta) não admira. Apesar da chuva, o parque estava quase esgotado (de tendas e caravanas, porque a nossa AC era exemplar único). Ficámo-nos por uma tarde de lazer doméstico, à volta de jogos familiares e à noite um jantar místico, com delícias regionais e grelhados e regado com sidra, claro. Os nossos “conterrâneos” já haviam chegado há uns dias e o homem da família já tinha um curso intensivo prático de como vertê-la para os copos (deve-se verter com o braço bem no ar e o jorro deve atingir o centro copo numa distância sensivelmente de 1 metro).
Arenal de Moris é um lugarejo numa ponta longe de tudo, onde a terra acaba e o Atlântico se espraia, fomos lá à noite espreitá-lo.
A praia é fabulosa, uma extensão de areia e de mar dignas do nome e, sempre a acompanhá-la, ao lado ou no topo das íngremes penedias, belíssimas alcatifas verdes quase a entrar no mar.
5 de Agosto
Três de nós, afinal cansados da viagem da véspera, decidiram conhecer os arredores,
enquanto os restantes (cansados da pasmaceira da chuva e, por isso, cheios de energia) partiram para o célebre passeio pedestre da Ruta del Cares. Uns meros 13 km a pé, que os fez partir cedo e regressar por volta da meia-noite, depois de terem passado por tonturas, pés doridos e mais de 200 km por serras (de carro, óbvio!). Mas vinham felizes…



(Ruta del Cares)





Enquanto isso, o trio andou nas calmas em Lastres, pequeno pueblo piscatório, onde saboreou, no porto, umas gambas al alhinho e por Ribadesella, a vila anfitriã do campeonato internacional de canoagem, que se preparava para receber os milhares de turistas que dentro de horas invadiriam hotéis, pensões, campings, terrenos, estradas e até rotundas…
(Lastres)
6 de Agosto
Já ambientados à zona, deu para perceber que a estadia no parque não nos trazia mais ou menos regalias, por isso, sempre com a vantagem de se poupar dinheiro, estacionámos na falésia em frente ao camping e com vista grátis para o mar.
E foi no mar que passámos a manhã, incrivelmente mergulhando em águas muito menos frias do que aquilo que as más-línguas apregoam. O mar de Porto-Côvo não apresenta grande diferença, talvez mais frio do que aquele se apresentava.
À tarde, passeio cultural pelo Museu Jurásico, felizmente sem incidentes que fizessem justiça ao nome inspirado no filme.
Era véspera do campeonato de canoagem e sabendo de antemão que o trânsito ia ser tudo menos fluído, decidimos procurar um poiso para dormir, perto do rio, para que no dia seguinte desfrutássemos da passagem das piraguas, de máquinas fotográficas em riste para a reportagem. Mas se a ideia era boa, outros devem ter pensado o mesmo. Foi quando constatámos que residentes alugavam parcelas em terrenos particulares por preços exorbitantes (15€ numa relvita de um quintal e 30€ num camping improvisado com WC de plástico)e que malta menos abonada montava tendas até em rotundas, à beira das estradas. Em Arriondas, local de partida das canoas, era impossível. A meio do percurso, entre Arriondas e Ribadesella, quase à beira da estrada, havia um pequeno eirado ao lado de uma capela e foi lá que ficámos, ao lado de uma AC madrilena de família simpática com quem ainda jogámos raquetas e petanca. Dormiu-se mal com o barulho da estrada sempre em movimento.
7 de Agosto
Às 9.30 os nossos amigos portugueses já estavam a tomar o pequeno-almoço connosco, para irmos marcar lugar à beira-rio, com umas toalhitas de praia a ver a procissão passar.
Foram mais de 700 pirogas, com gente de todo o mundo, uns em grupo, outros sozinhos, uns dentro das canoas, outros a empurrá-las ou a perdê-las, outros com elas à cabeça. Um espectáculo único que, sem dúvida, merece ser visto.









Depois do esforço (só de ver!) e de um banho em família com alguns em cuecas, nada como um almoço verdadeiramente asturiano: fabada e javali, em Infiesto.
Infiesto tinha sido, há uns anos atrás, a aldeia onde tínhamos alugado uma casita rural, com uns quantos amigos no tal passeio onde o sonho nasceu.
Nesse ano tinha recebido uma feira medieval espantosa e, incrivelmente, embora com menos qualidade, naquele dia havia algo do género.






Demos ainda um salto a Nava para visitar o Museu de Sidra.
Pernoita no mesmo local, em Arenal de Moris.
8 de Agosto
Mais uma manhã na praia com banhos e construções na areia. A chuva, de vez em quando, espreitava e borrifava.
À hora de almoço ficámos sós, porque era hora dos nossos companheiros regressarem a casa. Para nós era apenas o início das férias.
Voltámos a Ribadesella, mas os resquícios da festa não eram muito simpáticos: lixo por todo o lado, especialmente garrafas. Ainda tentámos visitar a Gruta de Tito (por aquelas bandas é normal a proliferação de “cuevas”), mas estava fechada.
Partimos para Cangas de Onis, berço de Pelágio e da reconquista cristã. Pela segunda vez na vida, ali, tivemos de comprar capas de chuva, o que nos fez con, cluir que Cangas sem chuva, não existe.
À noite, a chuva (e o frio) continuaram, mas mesmo assim procurámos um restaurante de comida regional e provámos fabas com almejas. Contrariamente à quase restante Espanha, este reino é pródigo em boa comida.
A pernoita em Cangas tem um local próprio para AC, com as comodidades básicas (5€).
9 de Agosto
Passeio incontornável a Covadonga. Visita à gruta de Pelágio e à basílica. Quer se queira quer não, surge sempre a recordação e, com ela o respectivo momento narrativo aos mais novos, da história de “Eurico, o presbítero” e a sua Hermengarda, do velho Herculano.





Dali, visita aos lagos, para homenagearmos o local onde o sonho nasceu.
A sensação das alturas, do verde e das vacas, da canção do silêncio, das manchas castanhas por cima daquele verde imenso, dos pastores sem vacas e das vacas sem pastores, ali ao nosso lado….é irreal. Ficava-se ali uma eternidade se não fosse a parvoíce de estarmos quase sem água e, apesar de haver um parque de estacionamento próprio para AC, este não ter água.
Descemos a Cangas para dormirmos no mesmo local, o que implica que ainda temos de voltar aos lagos para pasmar uma ou duas noites no breu do silêncio montanhoso.




10 de Agosto
Uma ideia fixa ia-nos perseguindo desde o início das férias: percorrer o Sella numa das muitas canoas de aluguer da zona. Regressámos portanto a Arriondas para uma prospecção de mercado. É sempre caro, por isso decidimo-nos pela Escola Asturiana de Piraguismo que nos garantia um dia inteiro de aventura, com farnel e regresso ao local de partida num mini-bus e duche nos seus balneários.
Depois de uma lição teórico-prática de “como conduzir uma canoa”, a partida foi às 11.00, numa descida alucinante, madeira abaixo, tipo rápidos. “IUPI !!!!!!”, gritavam os garotos.
Mas cedo verificámos que não era tão fácil assim. A condução entre dois remadores é um baile que exige uma coordenação uníssona, que seria óptima de todos tivessem percebido convenientemente a lição! Até à primeira ponte, a piragua voltou-se várias vezes, foi para direcções indesejadas e, mais à frente, o normal era chocar com as dezenas de outras, igualmente amadoras, que connosco se cruzavam. De fazer subir a adrenalina e as gargalhadas, foram ainda os rápidos que de vez em quando surgiam sem aviso prévio e alguns ramos de árvores que se nos atravessavam à frente, obrigando-nos a baixar a cabeça. É claro que tudo isto num rio com uma profundidade até aos joelhos e com muitas praias para descansar, tomar banho ou almoçar.
Mesmo assim foram entre 14 a 16 kms em 5 horas, o que deu direito a dores musculares e um cansaço de rei . “ Foi giro e cansantivo”, registou o mais novo que pouco ou nada remou, qual príncipe na garupa de um cavalo, a observar a paisagem.
Pernoita em Arenas de Cabrales, num local simpático, mas sem água.





11 de Agosto
Passeio matinal pela simpática aldeia.
Dali a Bulnes não é longe. O objectivo era subir à aldeia isolada da civilização, no funicular de Bulnes. Muita gente, só conseguimos bilhete para as 13.30. Para fazer tempo fomos a pé até ao início do percurso da Ruta de Cares que apenas um da família tinha feito, uns dias antes. O rapaz pelos vistos não se importava de repetir, mas demos só uma espreitadela àquilo que é uma paisagem de respeito!
(Bulnes)
No funicular encontrámos uma velhota da aldeia, de 86 anos, que tinha vindo “cá abaixo” às compras. O único elo de ligação com a dita civilização é aquele funicular, antes dele era o isolamento. Agora os turistas embrenham-se, com as fatiotas e botas Coronel Tapioca por o mundo dos pobres e pastores, com o fito de ver e quase tocar o maior pico de todos, o Naranjo de Bulnes. Eu, sem botas mágicas e pouco amante de subidas, decidi-me por uma espreitadela longínqua e um gelado na única esplanada de Bulnes.




(o famoso Naranjo)





A lida doméstica (roupa suja) exigia camping, daí que insistimos com a recepcionista do C. de Viorno (perto de Potes) que estava esgotado. Acabou por nos instalar ao lado da recepção até ao dia seguinte. Valeu a pena, por apesar disso e do preço, o parque é um mimo, até tem quadros em ponto-cruz para assinalar os diferentes serviços (e muito asseio).
12 de Agosto
Potes é uma vila excepcional para estar e passear. Uma breve ida às compras e até parece que somos naturais “potenses”. Compram-se uns bifes de ternera como não existem em lugar nenhum deste Portugal continental, porque obviamente lhe faltam as abençoadas vacas lançadas todo o Inverno naqueles pastos naturais.




(Potes)




O camping fica no caminho para o Mosteiro Santo Torino de Liebana, por isso, apesar de a nossa religião estar mais próxima da natureza que de qualquer deus ou santo de altar, deixámo-nos encantar por uma missa e visita guiada ao santo Lenho, por um frade residente.
Tarde no relaxe, dividido entre a siesta e a piscina… e o bife no grelhador, claro!






13 de Agosto
De Potes até Fonte De é um salto. Queríamos subir até às nuvens e se há uns anos atrás éramos só três, agora, os quatro, mastigámos todo aquele algodão branco, ainda com mais euforia.







Tal como todos os outros que ali sobem, escrevemos os nossos nomes com as pedrinhas da montanha e deixámos lá o autógrafo. Dos putos para as nuvens.





Dias antes, uns ciclistas portugueses tinham-nos aconselhado Comillas. Demos uma espreitadela. Alguns palácios e uma casa apalaçada desenhada por Gaudi.







No dia seguinte havia um desfile de Carnaval em barcos (?!), mas a estadia não nos inspirou pelo que lá fomos nós ao encontro de uma das mais maravilhosas aldeias daquelas bandas: Santillana del Mar. Em Agosto, o cenário habitual é encontrar-se repleta de turistas, as ruas animam-se, e à noite há espectáculos de música na praça principal.
As AC também são muitas por lá, sendo que particulares vão entrando no negócio cobrando por estadias de uma ou 2 noites, em mini-parques de estacionamento. Por 2€ ficámos num deles.
14 de Agosto
Passeio matinal na vila encantada.






Ida à praia, desta vez Covejos, a conselho dos ciclistas. Boa água, azul, fria. Nudistas.
À tarde, Santander. Passeio à beira da baía e olhadela comercial.
Pernoita novamente em Santillana, noutro parque, por igualmente 2€.
Noite de música popular.
15 de Agosto
Ir às Cuevas de Altamira sem reserva prévia é complicado, assim, a solução foi um de nós acordar bem cedo e ir para a fila. Antes das sete já o homem da casa lá estava, e quando nos juntámos a ele ainda tinha 25 pessoas à frente!
A visita guiada (de apenas 30 min. ) é excelente, vale pelas palavras e pela animação em 3D, apesar de estarmos apenas na réplica da gruta. A original, lá está, atrás de umas grades, fechada.




À tarde novo passeio: o zoo do Parque Natural de Cabarceno. Trata-se de um zoo completamente diferente do habitual já que se pode (e deve) visitar dentro do próprio veículo, dada a sua extensão. O zoo alberga animais selvagens, cada qual no seu habitat, uns distantes dos outros e, nalguns casos, como o dos macacos, é possível tocar-lhes.
Numa das extremidades do zoo há um lago, onde aparcámos e dormimos, isolados, com uma paisagem africana de fundo, porque era perto da zona dos elefantes.





Parte II
Direcção Galiza
16 de Agosto
A partir de agora restavam-nos as imensas praias de toda a costa em direcção à Galiza.
S. Vicente de la Barquera - para uma mariscada que, por acaso, foi um logro.
Llanes - onde não por parámos por ser difícil estacionar, mas afigurou-se interessante.
Pernoita na praia de Esparsa.
17 de Agosto
Ida a Gijon, onde ficámos no Camping municipal de Deva. Tarde a pasmar.
18 de Agosto
Visita ao centro de Gijon: plaza mayor, passeo marítimo e Feira de Muestras das Asturias.
19 de Agosto
(Museu de Salinas)
Almoço em Cudillero, uma aldeia piscatória com as casinhas por uma encosta acima, qual presépio miniatura. Come-se pescado na praça, cada porta um restaurante. Um mercado fabuloso de peixe fresco, onde comprámos percebes. A meio do almoço, caiu uma trovoada que afugentou todos os turistas: “choveu tanto que o chão era quase mar” …
A chuva empurrou-nos pois até à fronteira Astúrias – Galiza. Lá em baixo, no Rio Eo, os barquinhos deslizavam como cascas de nozes. Pisámos a Galiza, mas rapidamente as saudades nos fizeram voltar atrás, a território asturiano. Escolhemos a Playa de Arna onde, no alto de uma enorme falésia estacionavam, coloridamente, dezenas de AC. Cães, cadelas e papagaios de papel coloriam a paisagem. À noite, o vento uivava de forma assustadora, mas pela manhã reinava a bonança interrompida pelo som de uma carrinha que apitava: era a carrinha do pão que vinha a Maomet. Que mais podíamos querer?


20 de Agosto
Playa das Catedrais, porque as rochas formam arcos sucessivos.
Ao longo desta costa não é difícil pernoitar, parar, fazer piqueniques; apesar das vivendas. Há chuveiros e WC.
Escolhemos a praia do Altar, onde almoçámos numa relva frente ao mar.
Depois da siesta, partimos rumo à Galiza, no caso La Coruña, camping Los Naranjos, a fim de recordarmos e jantarmos no restaurante do camping (de 5 estrelas), uma pizza verdadeiramente italiana.
21 de Agosto
Descobrimos que o sítio das Ac, em La Coruña é ao lado da torre romana.
Nada como conhecer a cidade num passeio de eléctrico ao longo do passeio marítimo. A qualquer momento se sai e entra-se noutra paragem, por exemplo, rumo à cidade velha.
Partida para Santiago. Em boa hora chegámos, porque se realizava um Festival de Rua. Passámos a tarde em duas ou três praças, sentados em escadas, a ver espectáculos de mímica excelentes!
Talvez não fosse mau dormir onde estávamos estacionados (parque João XX), mas a intuição disse-nos que não era muito seguro e optámos pelo camping do Monte do Gozo.
Foi pena estar frio, porque no outro dia podíamos ter aproveitado a piscina.
22 de Agosto
A chuva e o ar outonal às vezes tiram a vontade de ficar, daí que começámos a ir na direcção de “casa”. Ainda tentámos parar em O Grove ou Padron, mas nesta última havia mercado e o estacionamento estaca um caos. Se queríamos pimentos tivemos de parar mais à frente, em Villagarcia. Foi a despedida, com a garganta a arder.
Entrámos em Portugal, Vila Nova de Cerveira, para dar de caras com mais uma feira medieval com muitos vendedores espanhóis. Afinal era como se continuássemos em Espanha…
Passeio de burro, uma tenda com chás marroquinos (chá de “merda” e de “erva-bueña” (hortelã), carrossel de tracção à força humana, setas e arcos
Pernoita no parque da estação central.
De 23 a 26 de Agosto
Apesar de estar na hora de regressar a casa, o corpo continuava a pedir adiamentos. Despedir deste 2º lar é sempre complicado, mesmo quando parece que já precisamos de parar e de ter um tecto de telhas.
Por isso, fomos descendo devagar, passando por Mira (onde pela primeira vez apanhámos um susto, com jovens que durante a noite abanaram a casinha). Um salto ainda a Peniche para visitarmos uns amigos e termos o prazer de conhecer a Tasca do Joel.
Passagem ainda pela Ericeira.
Na altura, pelos vistos, ainda era possível pernoitar e estar frente à praia. Mais de 19 AC estavam por lá.
O passeio terminou de forma histórica com uma visita guiada ao Convento de Mafra.









domingo, 15 de fevereiro de 2009

“Cada cabeça sua sentença”, ou a guerra da política?




Quando me iniciei neste novo mundo da tecnologia, “dialogando” com desconhecidos e visitando as viagens dos outros, as palavras dos outros as opiniões dos outros, já devia saber que basta haver duas ou três pessoas , para haver mais do que uma opinião. Nunca pensei foi que a questão do autocaravanismo encerrasse tanta terminologia e desse azo a tanta controvérsia, do género com e sem “Cartilha”, do tipo autocaravanismo versus campismo, do género aquele pertence à sigla X, o outro à Y…
Chamam-lhe inocência ou falta de observação, ou coisas piores… Sinceramente que desconhecia que gostar de viajar em 4 rodas com a casa às costas, umas vezes parado em parques, a maior parte fora deles (alguns), pudesse gerar o nascimento de tantos partidos políticos, ou quem sabe até sindicatos – porventura da CGTP, para que só fique a faltar o Governo dizer que são todos comunas e acabe com as autocaravanas...- defensores dos direitos destes não-trabalhadores.
Pensava eu que, regra geral, a causa era a mesma – embora já tivesse constatado na prática que há gostos para tudo, como estar 15 dias parado na mesma praia, de braços cruzados, em magote, a olhar para os outros AC; ou o rodar daqui para ali, variando; ou aqueles que se limitam a usar os depósitos para despejar e encher e aqueles que são capazes de despejar a sanita química para o rio mesmo ali ao lado, ou deixar o lixo e os dejectos do gatinho ou do cão ao lado da AC do vizinho; ou aqueles que fazem, mas dizem que nunca fizeram e acusam os outros de fazerem; …, - enfim, ele há um pouco de tudo, como no meu bairro, como na minha rua. Afinal, estamos a falar da continuação da casa e estamos em Portugal, não querendo dizer com isto que somos piores que os outros, apesar de regra geral o sermos. Portanto, se calhar já devia ter percebido que a causa não pode ser a mesma.
Assim, não sei porque esperei que a criação de movimentos, blogues, associações pudesse trazer algo de novo, sem que acusassem logo quem não conhecem de ter pouco espírito de associativismo, ou sem acusarem outros de ser menos ou mais que eles.
Certo é que, pacatamente no meu canto, conhecendo apenas nomes virtuais, começo a olhar de modo diferente para aquilo que pensava ser a mesma forma de estar. Os modos de estar afinal são diferentes, porque as pessoas querem coisas diferentes, só porque são diferentes. Estão no seu direito (de serem diferentes), eu é que não quero estar no meio daquilo a que chamo pequenez (misto de pequeno com mesquinhez), nem quero perceber o que ainda não percebi , especialmente se se enquadrar no novo neologismo.
O que eu quero não afecta os outros, depende de mim e infelizmente do que comanda a minha vida: quero estar na estrada que percorro, nos caminhos pelos quais opto, saboreando tudo com os cinco sentidos. Depois, resta-me recordar registando pela imagem e palavra. Só tenho pena que não possa percorrer mais quilómetros de cada vez que me apetece… Mais pena terei se, com tanta politiquice, qualquer dia não tenha um espacinho nem para estacionar, quanto mais para pernoitar, e me encerrem em campings (sejam eles “resorts” de 5 estrelas ou apenas parques com jardins feitos de alcatifa, flores artificiais e periquitos garridos).

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Parte II Mais um castelo, antes de saborearmos o sol (espanhol) que havia faltado quase todas as férias







Barcelona tem outras cores, outras formas, outro ambiente, outra vida. Até certos sinais de trânsito são diferentes, reflexo de outro modo de viver, de outra forma de estar.
Em 2004 demos lá um salto, durante umas férias das Páscoa. É claro que daqui até lá, podíamos ter chegado num fôlego de um só dia de viagem, mas naquela vez o objectivo era ir respirando devagar noutras paragens.
Trujillo, já referida de outras viagens, foi a primeira paragem para um almoço tipicamene espanhol (revuelto com esparregos), que se tornou até hoje, num prato eleito desta família, basta haver esparregos, basta haver viagens e apetite. Toledo foi a paragem nocturna para, com vem sendo mania das férias da Páscoa, assistir a uma procissão andaluza. Na altura ainda era possível (agora não sei, mas ouvi rumores em contrário) pernoitar num parque de estacionamento, frente à Estação de Autocarros , naquela noite pleno de AC.
Tínhamos também em mente uma ida a Tarragona, cidade que desconhecíamos, e que se revelou paragem obrigatória. Tarragona é um recuo no tempo até à civilização romana e foi basicamente por aí que nos ficámos: Fórum Romano, Circo, Anfiteatro.





Em volta espreitam imensas praias, nas quais naquela altura do ano não é difícil estacionar e até pernoitar, como a playa Arrabassada. Aí almoçámos nós e apanhámos algum sol, quais lagartos, para acabarmos pernoitando noutra localidade já na direcção de Barcelona: Vilanova i la Geltéu. Na praia de Farol é proibido mas tolerado (expressão estúpida, mas que no panorama geral de discriminação, até é adequada), e foi onde ficámos na companhia de outras, estrangeiras.
Barcelona tem um senão: estar-se seguro e conseguir um local de pernoita. Há sempre a hipótese de ficar num Camping, todos eles com acesso a praias “privativas”, mas quando o objectivo é viver a cidade, não é nada prático, porque ficam longe e são caros.
Muitas AC vão ficando ao longo da linha da praia, no Paseo, mas os lugares são escassos e a avenida barulhenta. Em 2004 tivemos ainda assim muita sorte, porque o parque de estacionamento de Gracias (vigiado e pago) ainda existia. Caro (20€ por dia), mas com segurança. Anos mais tarde, estava em obras e ficámos num outro parque, agora não faço ideia. (ver "Parte II- Mais um castelo"...). Será que já há outras soluções, ou nem estas existem?
Perto de Gracias existe uma paragem de metro, pelo que tudo fica central e de fácil acesso.




Assim que se chega, é-se logo banhado de animação na zona da Sé e, a partir daí, apetece andar a pé e comer tudo com a visão: Bairro Gótico, Ramblas, Cólon, Aquarium, praça da Catalunha. Para cima e para baixo e as horas de um dia não chegam para abarcar tanta diversidade, luz e cor; assim como os pés não aguentam tanto chão, apesar de ali ser quase tudo plano.




(Las Ramblas)



-->Barcelona é também a sua original arquitectura e, claro, Gaudí, sempre a chamar-nos. Como uma visita completa exige bolsas recheadas, o melhor é repetir Barcelona e repartir Gaudí em fatias. Desta vez, calhou-nos a fatia Casa Bartó e a sempre em construção Sagrada Família.





(Casa Bartó)


(Sagrada Família)





Calcorrear Barcelona é também parar para apreciar as suas tapas, em grandes restaurantes onde as ditas cujas nos acenam de umas montrinhas enfeitadas à maneira. O Qu-Qu é um deles ou o Tapa-Tapa, no Passeio de Gracia. Pã torrado barrado com tomate é de comer e chorar por mais.
Outra hipótese mais castiça é dar um salto até à Barceloneta e tirar um petisco num dos bares/ tabernas típicos.
Depois há ainda os Museus: o do Botão, para onde espreito sempre e onde namoro sempre os botões na loja de souvenirs, na mesma rua o “de” Picasso (a sua visita ficaria para outra ocasião, apesar da forte tentação), o de Chocolate, imagine-se!



O sol é outro em Barcelona, em pleno mês de Março/Abril respirava-se Verão. Nada para retemperar energias como um passeio pedonal desde a praia Torres Marfre até H. Ars e Cólon.








Há certas ruas onde apetece ficar eternamente, voltar à direita, ir ao sabor das fachadas, dos ruídos, da sombra, do sol. Na zona à volta do Museu Picasso vamo-nos esquecendo do tempo… Acorda-se depois para “una copa” no bar na Calle Princesa, onde, mesmo lá, se ficamos outra vez, pasmados, a olhar em redor, até para as pessoas que também elas parecem diferentes.





Como acontece muitas vezes em outras cidades, em Barcelona apetece andar sem rumo, sem horários, sem obrigações, invejando quem lá mora e fingindo conhecer todos os recantos, como se lá morássemos há muito. Mas como não somos, e nem um terço da cidade ficamos a conhecer, há sempre mais para a próxima.
Naquela Páscoa foi assim, havia ainda que contar com o caminho de regresso a casa e não queríamos acelerar. Havia ainda mais praias para descobrir e gozar a vida em AC, nas calmas. Deltebre, por exemplo, é uma imensidão de dunas fascinantes ou, num estilo diferente, St. Charles de la Rápita. Aí, já preparados para pernoitar, à hora do jantar, fomos interrompidos pela polícia que nos veio, literalmente, bater à porta. Vinha avisar que não podíamos ali estar. “Onde está a proibição? Somos um veículo estacionado, não estamos a acampar.” Lá fomos argumentando, mas de nada serviu, a força de lei era mais forte com a ameaça de uma multa se ali continuássemos. Um francês ao lado resolveu a confusão, fazendo-nos sinal para o seguirmos e assim, em excursão, lá fomos. Seguiram-nos ainda uns holandeses, e lá fomos, em fila indiana até um recanto ao lado de uma zona residencial, ao lado de uma pequena praia.
Até Toledo, passámos ainda por outras praias como Carret de Berengeure e já mais para o interior, por Sagunt, uma vila romana à espera de muita restauração.




(Sagunt)




Toledo, outra vez, para que o ciclo ficasse perfeito. E para acabar com chave de ouro: Museu El Greco.