segunda-feira, 27 de abril de 2009

Umas vezes faz sol, outras vezes chove. É Abril e, em “Abril, águas mil.”






O 25 de Abril não é excepção. Permanece a vontade de celebrar, de recantar a “Grândola Vila Morena”, de gritar “Fascismo nunca mais” – é este o sol de Abril. Mas alguns têm a memória curta e até parece que já nem querem recordar o que representa o cravo ou até parece que, noutros casos, lá nos vão querendo calar a boca… é esta a ameaça de chuva no 25 de Abril.
O 25 de Abril era pretexto para falar de viagens, mas viajar soa a coisa banal quando a data é (foi) também uma questão de vida ou de morte. A morte da Censura, o nascimento da Liberdade. Sem mortes, só cravos. Sem sangue, só vermelho.
E porque foi 25 de Abril em 74, é que é possível viajar no 25 de Abril de agora, mais ainda numa casa itinerante, não censurada, sem regras, ao sabor da liberdade.
Não censurada, dizia eu? Quantas vezes o destino eleito foi Porto Côvo? Inúmeros 25 de Abril. E relembrá-los este 2009, faz-me recordar outros textos neste blogue sobre a simpática aldeia alentejana, à beira da falésia. Faz-me lembrar que foi a decepção vivida no último Verão que me fez iniciar este blogue, desiludida com o que lá vi, a pressentir uma nova censura: a discriminação nacional aos autocaravanistas.
Desde Agosto que não voltei lá. Por esse e outros motivos, mas sobretudo por esse. No 25 de Abril, este ano a um sábado (até o calendário fez censura!!), não foi possível viajar. Noutros primeiros de Maios, a mesma aldeia também foi o paraíso eleito. Não sei se no próximo o será. Receio vir a aprofundar a desilusão de Agosto. Apesar de alguns rumores mais optimistas sobre reuniões dos responsáveis da zona, não me parece que a Câmara de Sines venha em nossa defesa, porque os seus valores são mais altos, uma altura que é sempre a mesma história de sempre, a dos interesses imediatos e mais lucrativos possíveis…
Mesmo assim recordo aqueles inúmeros momentos de liberdade. Ao lado da “Grândola”, pois então!
















quinta-feira, 16 de abril de 2009

Novamente Granada, Páscoa 2007





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De cada vez que se vai a Granada, mesmo repetindo as mesmas ruas, há sempre algo de novo à espreita e sempre, sempre presente aquela atmosfera jovem, alegre, moderna e simultaneamente a ecoar o norte de África.
O Alhambra é visita obrigatória, sabendo de antemão que se deve reservar com antecedência e que, em qualquer dia ou época do ano, faça sol ou chuva, é difícil conseguir bilhete.
Depois de lá se entrar o mundo pára, a respiração também e percorre-se cada sala, cada jardim, sob nuvens…


( pormenor Alhambra)









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Para relaxar há sempre outros programas, mais uma vez com reminiscências de outras culturas e para despertar outros sentidos. Refiro-me, claro, aos banhos árabes. Um mergulho tépido, gelado, ou super-quente em piscinas exóticas, ao lusco-fusco, sob uma música relaxante e antes ou depois de uma massagem revigorante e suave. Há várias casas para o efeito, a “nossa” (passo a publicidade) foi a Hammam.















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Granada é também berço da tradição cigana… para lá das ruas do Albaícin e peregrinando pelos montes sagrados (?!) do Sacromonte, as grutas escavadas na rocha ainda lá estão, umas ocupadas pela comunidade hippie que pulula fortemente pela cidade, outras transformadas em bares típicos, outras aglomeradas no museu, outras fechadas, outras sabe-se lá quem albergam e porquê…





cueva a remodelar?



museu cuevas

museu



cuevas fechadas



cuevas com avançado

O flamengo, a música ao vivo, as sevilhanas, a dança do ventre seriam outras experiências a explorar, desta feita a estimular o sentido auditivo, mas ficarão para outras viagens e assim há sempre um motivo para voltar a “granadar” …

segunda-feira, 13 de abril de 2009

As quatro estações de Andaluzia, Páscoa 2009


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Sevilha, Granada e Córdova: um “triângulo” incomparável de arquitectura branca misturada com o árabe, aglomerados labirínticos de ruas, cheiros a tapas e cavalos, sol fortificante e alegre, pessoas, agitação, alegria, horas tardias, noche animada...
...e, aliadas à Semana Santa, as três cidades andaluzas ganham ainda mais cor e luz.
Sevilha foi a primeira ponta do “triângulo”. Três dias antes de Domingo de Ramos, as procissões aguardavam, mas a cidade já fervilhava de palanques, filas de cadeiras pelas avenidas principais e colchas vermelhas a acenar às varandas.
Esse era o ar espanhol, morno e “habitué”; mas Sevilha ganhou entretanto um ar mais cosmopolita, relembrando algumas cidades do norte europeu, com a sua rede de bicicletas de aluguer que se estende por toda a cidade em múltiplas estações e com a mais recente inovação, um metro à superfície todo ecológico e de linhas modernas.
Desta vez, sem mapas, explorámos os cantos à casa ao sabor da intuição e dos apelos visuais: a catedral e a sua Giralda
(li recentemente que a catedral consta do Guiness como a maior do mundo); a judiaria; as pequenas plazas repletas de esplanadas e pessoas tapeando e bebendo canhas;
a praça da Maestranza, qual palácio ao Toro; um merecido jantar numa taberna típica, com croquetas, ensaladilla russa, tortilla, pescoço de boi ou um lanche de canhas e croquetas, reencontrando por mero acaso pessoas que não víamos há mais de 15 anos…


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Do lado oposto há ainda a possibilidade das ruas comerciais, como a Tetuan, onde apetece fazer como os espanhóis: entrar e alargar os cordões à bolsa…


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Para pernoitar tínhamos a indicação, via net, de uma zona na Marina de Gelfes, fomos lá, mas havia um portão fechado e acabámos (como já havia acontecido em anos anteriores) no camping Vilson, bem servido de autobus, 500 m já em Los Hermanas. Os autocarros são frequentes e circulam até perto da meia-noite. O pior mesmo é que entre parque (para 4) e bilhetes fizemos uma diária de 40€.
Antes de chegar ao segundo ponto do triângulo (Granada), ainda há a hipótese de passar pela serra e gozar um belo sol, mesmo frente ao mar. A volta foi por Ronda, local de difícil estacionamento para AC e servida apenas de um camping caro (30€ antes da Semana Santa, 35 € nas ditas Festas), a 3 km a pé até ao pueblo. Optámos por não ficar, uma vez que já conhecíamos, mas com pena de não haver ali uma área para AC.
E a partir dali constatámos que a vida do autocaravanista cada vez se torna mais difícil, sobretudo em locais à beira-mar. Em Marbella não arriscámos e não vislumbrámos muito espaço; até Cala de Mijas espaços reduzidos e poucos parques de estacionamento, nalguns, estreitos, algumas AC arriscavam e tinham mesmo por cima a autovia barulhenta. Encontrámos um bom espaço ferial em Cala de Mijas (N36º 30’20,2’’ W4º 40’ 53.6’’) onde descansámos e pernoitámos sossegadamente, ao lado de outra.


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Antes de continuar pela costa, havia que fazer um pequeno desvio até Mijas, pueblo serrano e solarengo, que inaugurava a manhã com a procissão de Domingo de Ramos. Desde a ermida na rocha até à Igreja de Nossa Senhora da Conceição, os ramos de palmeira e oliveira são agitados por uma multidão ruidosa que, depois da missa, sai em procissão pelo centro, acompanhando o andor de Jesus montado no burrico, como não podia deixar de ser, já que Mijas é o berço dos burros.
Espanha é também touradas, por isso não nos pareceu nada mal visitar uma praça miniatura e bem típica, a de Mijas, claro!


(O táxi de Mijas)


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Para almoço alguma vez tinha de ser a famosa paella, e, recordados de um pequeno bar em Mijas, há mais de 12 anos, que fazia uma excepcional, bisámos. Mas como tudo na vida, a segunda vez nunca é igual à primeira…
A partir de Mijas, há outro roteiro processional aconselhado - Málaga - mas ao que parece pernoitar ali não é fácil. Em cidades grandes há sempre o factor insegurança que nos faz recuar, optamos pelo camping, mas neste caso, o de Málaga era a mais de 30Km. Talvez tenhamos saltado alguma coisa, não percebi, o facto é que antes de Málaga conseguimos ficar em Torremolinos, mas já depois de Málaga, só Motril.
Em Torremolinos a discriminação AC é visível em placas como esta:

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ainda assim, no final do Paseo Marítimo a proibição não existe e passámos lá uma boa parte da tarde, para passear e rodar nas biclas ao longo do Paseo. À noite passámos para a parte proibida, já que não havia guarda nem ninguém. A polícia passou e nada disse, ao lado uns franceses.
Até Motril tínhamos a indicação de duas zonas de AC em Nerja, fomos lá mas estavam ambas fechadas ?!
Acabámos em Motril, na praia de Granada, depois dos dois campings. Já conhecíamos e sabíamos ser seguro, ainda por cima com a vantagem de estar na 1ª linha da praia. O pior é que precisávamos de despejar e encher! Dando o exemplo civilizado, pusemos gasolina, pedimos autorização para encher, despejámos (sorrateiramente) a sanita no WC exterior da Gasolinera, demos banho à Casinha nas lavagens automáticas de carros, para podermos, em simultâneo, despejar as águas sujas. Talvez não tenha sido o mais higiénico, mas depois de termos pedido autorização nos campings de Motril, e de a terem negado, não havia outra hipótese. Por que razão os campings não têm um preço simbólico para AC, só para despejos e reabastecimento? Porque se calhar é melhor estas andanças, ou então fazer como a senhora alemã que estava ao nosso lado: pegar na sanita e despejá-la no mato, do outro lado da estrada?!


(Motril)


-->Em poucas horas, do Verão passámos ao Inverno: já que se vai a Granada, por que não uma subida até à Sierra Nevada? A época é de facto de estância de Inverno, os turistas abundam, o desporto deslizante está no auge! No topo da montanha (2.379 mt alt.) há uma zona para AC, por 10€ diários, com água e sítio para despejos ( N37º 05’ 57.9’’ W 00 3º 23’ 33,2’’). Estava bastante cheio, também com portugueses armados dos seus skis, gorros e gaffas de sol! Para quem não pratica, como nós, o passeio até ao pueblo, ou melhor, uma base de lojas caras, restaurantes e hotéis, é uma espécie de passeio por uma base de astronautas, onde os alliens somos nós próprios.




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Mas vale a pena estar no meio de tanta neve, num cenário de algodão doce com temperaturas nocturnas de 5 º negativos! Impressionante! Mais impressionante ainda é a carrinha não pegar no outro dia de manhã, quando nos propomos descer até Granada! Tem de se chamar o especialista, que com um milagroso spray a põe a funcionar em 5 segundos e estende a mão para em troca receber 60€, bela aventura na neve!
O que vale é que Granada é cor e alegria! Haja sol, novamente! E dinheiro, claro, porque aqui vale mais jogar pelo seguro e ir até ao Camping Sierra Nevada (36,60€).
Granada é aquela jóia árabe, onde apetece estar, ficar, sonhar…


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Chega-se à Plaza Nueva e há logo um íman a puxar-nos para o emaranhado de ruelas do Albaicin, bairro típico, de recantos árabes, labirínticas calles onde apetece perdermo-nos e espreitar pela portas, muros, e pátios. Subindo ao mirador San Nicolás , o Alambra esmaga-nos,
de beleza, num choque de frente.
Gastam-se rolos de fotografia, para além de ter a sensação de paragem no tempo, com tanta concentração, de hippies, por metro quadrado. Esperar-se-ia mais pelos árabes, mas à falta deles, populam os hippies e o artesanato mourisco e as teterias e o cheiro a incenso marroquino…
(mirador San Nicólas)
Parar, estar e contemplar são sempre verbos que por ali reinam: andar pelo Albaicín e parar no Miradouro; descer a Calle do rio entre a plaza Nueva e o Passeo dos Tristes, e parar aí, olhando as pessoas, ouvindo música dos muitos grupos de jovens que por ali conversam , namoram, dormitam…
(Passeo dos Tristes)
Ou andar mais ainda e fazer um intervalo para uma tapa regalada entre duas canhas, quejo, presunto, patatas, azetonas…
(Teteria no Albaícin)
E eis que irrompe, pelo peso da História e do passado “herege”, o culto e peso do catolicismo, com outro cheiro a incenso e outra música: a das bandas que choram Cristo. Afinal era quarta-feira santa e os andores de centenas de quilos, escorriam lentamente pelas calles, enclausurando-nos no labirinto e fazendo-nos calcorrear avenidas à espera do autocarro até ao Camping…


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Faltava a ponta do triângulo, desta vez Cáceres, onde uns amigos eborenses, igualmente andarilhos (numa Westfalia vermelha e hippie), já vacaceavam.
Em Cáceres, cidade mais pacata e espaçosa para AC, há a possibilidade de pernoitar gratuitamente, ao lado do espaço ferial, onde muitos buses param. Um pouco barulhento mas passa-se. Muitas AC, algumas portuguesas, como um sr. da Guarda que muito dialogou connosco sobre outras paragens, como Noruega (ai, ai…).
Em Córdova, as procissões são uma constante, desde Domingo de Ramos, cinco e seis por dia. Na quinta e sexta-feira Santa quase tropeçámos nos andores e fomos encurralados por nazarenos encapuzados de preto, roxo, vermelho…


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Uma “quadrilha de costeleros” carrega o andor – quase uma vintena deles – com camisolas a proteger ombros e cabeça, debaixo do peso, quase sem verem. Em alguns dos andores, a quadrilha, em uníssono, dá um salto e o andor sobe. O público aplaude, a procissão passa, de 30 em 30 metros, durante 5 minutos, o andor volta a parar para depois subir e continuar, horas sem fim.

(preparativos)

(debaixo do andor)

(o andor)



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As procissões entravam e saíam na Catedral: Dolores, Sepulcro, Expiración, Cristo na cruz, a Virgem chorando, a última ceia, Cristo morto…
A mesquita árabe ali ao lado, duas religiões quase irmanadas, a Judiaria no lado oposto, as rezas, as pipas no chão, o incenso…
Córdova é mais um exemplo do espírito andaluz, luz e cor e sol (33º para no dia seguinte serem apenas 20º), as pensões e hotéis sempre “completo”.
E sempre uma rua estreita para descobrir, um páteo andaluz, um arco em ferradura, malvas às janelas…
Na Plaza de la Corredera há alegria e artesanato de outros tempos, surge quase cozida ao emparedado Templo Romano. Nada que se compare ao de Évora…
(La Corredera)
(Templo Romano)
Na Plaza del Poltro - e as suas joalharias nas redondezas - apetece tapear…
Em San Pedro apreciar mais uma reunião de uma congregação…
Muito e sempre mais a repetir…ficaram a faltar-nos saborear algumas tapas, por exemplo, em La Bacalá, taberna típica com bom ambiente.
Estava na hora de voltar à realidade, Córdova-Zafra-entrada em Portugal por Mourão e, para descansar, uma noite bem dormida no descanso alentejano, na Aldeia nova da Luz, na recém-inaugurada zona para AC. O Alqueva ao fundo, outra vez o frio. Alentejo, mas parecido às noites frias andaluzas.


(Luz)