sábado, 29 de maio de 2010

Adeus Marrocos, olá Espanha!





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Dia 11
Não vou falar das horas longas na fronteira, não vou falar do polícia que não nos queria deixar passar porque o bilhete não “funcionava” para aquele dia, não vou falar do polícia que me gritou e que me fez pensar “só falta multar-me ou prender-me porque ousei responder-lhe”, não vou falar das idas e voltas pela fronteira, ... e tudo para conseguir trocar os bilhetes, porque naquele dia o mar estava agitado e só os grandes ferries circulavam... depois de horas e horas, filas e filas, inspecção do interior da AC.. não vou falar de uma viagem agitada em pleno alto mar, das ondas salgadas a fustigar os convés e janelas, das insisposições, dos enjoos, da longa espera em pleno mar alto antes de se conseguir atracar em terras de Espanha.
Não vou falar disso (!) porque assim se gastou o décimo primeiro dia.
Acabámos armados em europeus pseudo-capitalistas , algures em Algeciras, ceando pizzas. Já não tivemos coragem de nos meter à estrada e deixámo-nos vencer pelo cansaço, ali mesmo, no parque ao lado do Carrefour cheio de outros autocaravanistas... que afinal já conhecíamos de outros estacionamentos... de outros estacionamentos de Marrocos... como o mundo é pequeno!
Dia 12
Este, sim, foi o derradeiro dia de estrada, de férias, de liberdade.
Já em Espanha, a hora do almoço deu ainda para uma paragem em Aracena, uma vila simpática entre outras da Serra com o mesmo nome, por onde tantas vezes passámos a caminho de Sevilha e sobre a qual dizíamos invariavelemente “estas vilas devem ser giras...”, mas nunca paravámos.
Alguma vez tinha de ser a primeira.
O cenário contrastava com aquele que ainda vinha feresco nas nossas memórias, este parecia tão arrumadinho, tão menos natural e ao mesmo tempo agradável...
Foi a primeira visita , sem palavras históricas, sem roteiros culturais, apenas impressões frescas, coloridas, de uma terra que nos pareceu animada, com vida, e muita arte...





Fica agendada para uma próxima oportunidade.











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terça-feira, 25 de maio de 2010

Dia 10 - O toque final




Em contagem decrescente, Asilah (antiga Arzila) foi a pérola , o toque final pelo qual esperávamos.
As ruas lavadas, as paredes pintadas de branco e às vezes até com grafittis (!), as janelas a evocarem chaminés algarvias que afinal de árabe pouco têm (onde estão as chaminés em Marrocos?), o azul, o azul-marinho, o azulão, o azul-esverdeado, o mar, as pedras portuguesas, o brilho sadio da luz...






































À beira-mar (que pena a praia poluída!)
muitas AC,uma tenda improvisada com o pacato marroquino que cobrava o equivalente a 50 cêntimos, um vento assobiante a varrer as areias, um mar agitado...
Foram estas as memórias que perpetuarão.



Já com a tribo toda reunida, lançou-se a ideia de partir para Tânger, afinal seria o último dia em solo africano, havia que apanhar o ferry cedo.
Lá partimos, sem grandes sonhos sobre Tânger que, de facto, logo à entrada , nos deixou poucas saudades. As imagens dizem tudo, adivinha-se depois a miséria e o desejo de lhe fugir.
O camping de Tânger (Miramonte), apesar das indicaçõe s “accés un peu délicat pour les camping-cars” é, na prática, mais difícil do que “delicado”, felizmente que a saída se faz por outro acesso.
No ar, as ameaças de uma avaria ( a Van queixava-se de problemas na correia da ventoinha) e das travessias canceladas devido à forte agitação marítima fizeram-nos cabisbaixos e sem vontade de descobrir Tânger. Deitar cedo e cedo erguer , amanhã seria a odisseia da partida.




sexta-feira, 14 de maio de 2010

Dia 9 - Na pasmaceira


Metade da tribo alentejana dirigiu-se a Rabat; a outra metade, menos citadina e à procura das últimas pérolas, optou por rústicos caminhos e lugarejos em menor escala.
Um vislumbre rápido por Moulay Bousselham, certamente um bom poiso para os amantes de lagosta e de relax frente às águas paradas da sedutora lagoa.
Sem grandes indicações de roteiros , decidimo-nos por Larache, talvez fosse o toque que nos faltava para terminar em cheio.
Talvez...

porque afinal Larache revelou-se pouco atractiva, com uma medina pobre e suja e casas à espera da hora da reconstrução.
Lá em baixo , o mar espreitava.
Perante a desilusão, decidimos imitar os autocaravanistas da Área de descanso: sopas e descanso, aproveitando o a relva, os sobreiros, o silêncio, os sanitários e os duches e... tudo grátis! Não admira que tantas AC ali estivessem com ar de estadia permanente.







terça-feira, 11 de maio de 2010

Dia 8 - "Ganda ganza!"

Tocam campainhas feias gritando que está na hora de percorrer o caminho de regresso a casa.
Porém, “Relais de Marraquexe” convida ao repouso . Há ainda que aproveitar o sol, a piscina, a relva, o ar festivo de férias.
Camping: a possibilidade de se acampar numa tenda confortável
Inspirem-se: O interior-base da dita tenda!
O caminho é outra vez longo. É certo que poderíamos ter optado por uma directa até Tânger, até porque , ao longo do litoral, há uma auto-estrada que devora quilómetros , mas prevalecia a curiosidade de conhecer mais.
Conduzindo...
Para quem quer ficar perto de Rabat, o local mais próximo ainda era Temara, pequena localidade à beira-mar.
O Gandini anunciava o Camping Les Sablettes , mas aquele onde entrámos nada parecia com um camping. Descobrimos depois que não era o Mesmo assim, no terreno a céu aberto, uma roda de AC alemãs e austríacas, com um guia marroquino (que luxo!), acampava em círculo. Fora isso nada de sanitários, nem sítio para despejos, nem sequer uma bacia limpa para lavar a loiça. Com a desculpa que era o único camping nas redondezas , lá caímos na cantiga dos 120 dirhams. Não houve maneira de convencer o marroquino que, com os olhos brilhantes da erva esfumaçada, ria da nossa tentativa de negociar preços. Seja!
Os sanitários abandonados
Um passeio pedonal pelo “passeio marítimo” fez-nos concluir que em tempos Temara havia sido estância balnear importante. De momento, nem por isso...

sábado, 8 de maio de 2010

Julie, Jule & Paula na cozinha dos blogues



(Pensamentos inspirados num filme leve e inspirador, com a actuação fabulosa de Marly Streep: Julie & Jule)
Quando o marido de Julie lhe perguntou o que gostava de fazer , ela respondeu “Comer”. Quando Jule pensou com o marido o que poderia fazer para se libertar do tédio do dia-a-dia, nasceu o projecto de Jule registar num blogue as suas experiências culinárias. No final, a primeira escreve um livro de culinária e torna-se famosa, a segunda desperta a curiosidade e interesse de múltiplas editoras e, depois do blogue, vêm o livro e o filme...
Se me perguntarem o que gosto de fazer, respondo sem hesitações “viajar em autocaravana”. Para me libertar do tédio rotineiro e profissional, escrevo num blogue de viagens. A diferença é que isto não é um filme, os meus visitantes até não são muitos, os comentários não são às dezenas e nenhum editor me contactou.
Se calhar porque não escrevo sobre culinária...

Por isso, sem poder viajar, encerrada num Alentejo que teima em esvair-se em água (creio que no restante país a paisagem se mantém igual), aqui vai uma receita poética que também já foi mote de inspiração noutras viagens (http://viajantedecasaascostas.blogspot.com/2009/12/acorda-alentejana-em-melamina.html)

Açorda alentejana
Aproveitar o único pão do mundo que tem as virtudes de se reutilizar de formas diferentes e sempre saborosas (o alentejano, claro), e cortá-lo em pedaços como se brincássemos aos puzzles.
Cozer entretanto pescada, numa cascata de água a borbulhar . Enquanto as gotículas de vapor enchem o ar, juntar o odor fresco , verde e adoçicado de coentros ternamente colocados num almofariz de madeira. Misturar ao perfume alhos e sal. O almofariz tocará outra música, até se obter umas pasta homogénea e alegremente verde.
Para finalizar, juntar à agua impregnada do peixe, ovos que irão a escalfar (Jule teve dificuldades neste experiência, aqui , mesmo sem ser especialista, caem sempre bem e sabem ainda melhor).
A primavera chega (apesar da chuva teimosa), as uvas poderão juntar-se ao colorido do prato e combinarem com a cor do copo. Simples, rápido e genuíno.
“Bon Appétit!"
Preferem com ovo cozido ou escalfado?


segunda-feira, 3 de maio de 2010

Dia 7 – Marraquexe: os 5 sentidos


“Relais de Marrakech” assenta-lhe que nem uma luva, mas o imperativo de visitar a cidade é mais forte. Com táxi reservado de véspera, ele ali estava à porta, na hora marcada. Pelo caminho ecoava o ar feliz de outros turistas, num ambiente 100% marroquino, apesar de o deserto continuar a ser miragem...




Marraquexe é um hino aos sentidos e à evasão onírica...
Imagina-se o silêncio cantado da oração masculina ressoando através das paredes da Kotovia, a mais importante mesquita de Marraquexe...






Imagina-se o silêncio dos talheres de prata num dos mais caros hotéis do mundo...







Imaginam-se os sonhos de um ancião, quiçá a cores, quiçá doutro tempo a preto e branco...




E, chegados antes do meio-dia à Jamaa El-Fna, a imaginação povoa-se de cores, de imagens reais plenas do movimento das cobras e das danças,





do tam-tam das melodias exóticas, das formas redondas das laranjas sumarentas a escorregar por bocas ávidas de fresco,








das cores alegres e sadias...






O labirinto de ruas e opções perde-se, os passos também...



entre souks sempre diferentes...

lojas e mais lojas


legumes







Imagina-se sempre mais e, ao entardecer, a praça transforma-se , e o olfacto também se perde,imaginando novos paladares.






Definitivamente, um dia é pouco para tanto imaginar!...