sábado, 23 de outubro de 2010

Dia 12 – Salzburg dourada


E dali até à Áustria foi outra vez um pulinho.
Por entre o verde e uma fronteira que mal se nota – somos só europeus!... – e uma língua que é sempre a mesma, carregada de “erres” e palavras compridas, só mesmo as placas e as bandeiras indicativas de um outro país dão a ilusão que saímos de um e entrámos noutro.
Foi por causa dessa língua tão deles e tão pouco nossa (nem às vezes o inglês se vislumbra escrito , quanto mais o espanhol ou português!...) que, chegados a Salzburg, depois de nos terem negado o estacionamento num Park&Ride às portas da cidade, nos enfiamos num parking misto ao lado de uma Igreja no centro da cidade (lamento mas as coordenadas ficaram no GPS roubado, em todo o caso de certeza que vocês também não querem o endereço pelo que vão “ver” a seguir...) e não percebemos que não eram 5€ por 4 horas. Nem conto quanto pagámos por 4 horas de estacionamento, porque até coro só de me lembrar.
Mas como a conta só a conhecemos no final, passemos a recordar a manhã passada na cidade natal de Mozart, a cidade atravessada pelo rio Salzach e contemplada pelos montes alpinos....
Frente ao rio, deixámo-nos arrastar pelas multidões e seguimos o roteiro turístico normal que se centra pela zona antiga – Altstadt - e a famosa rua Getreidegasse.
Da longa lista de monumentos , entre os quais 35 igrejas, alguns jardins e palácios, reservámos a nossa visita para o calcorrear das principais praças da Altstadt, pela Getreidegasse e pelas casas do famoso compositor: Mozart's Birthplace e Mozart's Residence.

A primeira encanta pelo próprio espaço, a segunda revela-se mais rica a nível da informação que proporciona sobre a vida do pequeno-grande génio e da época em que viveu, sempre acompanhada, através dos audio-guide, da música do Autor.






A cozinha da mamã do pequeno Amadeus...



O tenro prodígio começou cedo na lide das pautas.

o clavicórdio no qual compôs " A Flauta Mágica"

Depois de tanta cultura, que mesmo assim visitámos em tempo recorde, nada como deslizar por todo aquele ambiente rico de adornos, nas praças, nas ruas, nas decorações. A praça de onde Mozart contempla pombos e numerosos turistas é um ponto estratégico para parar e admirar.



O próprio!!!



A fonte na praça Residence é também um belo exemplar de jogos de formas.
Sim, o que mais impressiona em Salzburg são, sem sombra de dúvida, as cores e as formas. Berço do Barroco, compreende-se ali por que razão aquele estilo tinha como objectivo encantar, influenciar, encenar. A encenação é de luxo e puro prazer visual.

Ainda assim, apesar de me apegar a sensações e a nada que passasse por algum facto objectivo ou concreto, Salzburg não produziu a tal magia encantatória que havia produzido anos atrás, aquando da primeira vez.
Ou talvez sim, lembro-me de ter ficado fascinada com tudo e de considerar tudo diferente; desta vez, fora as cores e as formas, muita coisa ali repetia o que se vê por tantas cidades europeias ditas cosmopolitas e turísticas. Deve ser o preço da globalização que rouba as linhas da individualidade.



Sim, é mesmo o tio MAc omnipresente...




O que vale é que também há bolos originais...


E montras artísticas

As lojas especializadas em artigos de Natal e outras festividades também são um ponto de diferença






E animação

E cores naturais


A chuva miudinha e depois com tendência a engrossar, encaminhou-nos para o parque de estacionamento. Em boa hora, caso contrário não só coraria como ainda choraria, neste momento.
Face à avultada e pérfida soma, lançámo-nos portas fora do reino musical e barroco. Ainda girámos à procura de outras zonas para estacionar, mas , de facto, constatámos o que já havíamos lido: que não é fácil estacionar, sobretudo AC, em tal cidade alpina.
Face às nuvens carregadas e tais entraves, rumámos até Mondsee, decididos a revisitar aquela que foi palco de uma das fitas mais longas da história do cinema... não que a dita fita fizesse parte das nossas nostalgias do passado, mas havia uma ponta de curiosidade por ver o que estava por detrás daquela montanha, quando há anos atrás, na 1ª viagem àquelas partes, me ficaram a ecoar as palavras do motorista: “aquela igreja foi onde eles se casaram, na Música no Coração”.
Até lá...



terça-feira, 19 de outubro de 2010

Um salto até à Arrábida

Subtítulo: Mesmo sem fotografias (http://viajantedecasaascostas.blogspot.com/2010/08/desventuras-em-autocaravana-i.html)

vejamos quem nos lê...


Para quem vive no interior, a sul do Tejo, ou até mesmo na capital colado ao dito rio, a Serra da Arrábida é uma excelente alternativa por dois motivos óbvios. Para os primeiros, a possibilidade de matarem saudades do mar; para os segundos a hipótese de relaxarem da metrópole poluída e stressante. Não será só assim, claro: para qualquer um dos dois, ou para qualquer português do Norte ao Sul do país, Arrábida é sinónimo de mar, descanso e ainda , óbvio!, serra, belíssimo cenário natural, boa gastronomia (peixe fresco !!!) e até alternativas culturais , físicas, ambientais e muitas mais...
O que nós queríamos mesmo era descansar e ver o mar, o que fizemos com sucesso , depois, ainda enchemos o saco de outras das referidas alternativas, assim, sem as procurar, ao sabor do momento.
Aconselhamos, então, alguns pontos estratégicos:
Setúbal, às portas da Serra, cidade que pode ser o meio termo entre a confusão da cidade e a pacatez do campo. Nós optámos por lá pernoitar em AC, depois de jantarmos com uns amigos em Azeitão e depois de darmos de caras com o portão fechado da nova Área de Serviço para AC , no Parque Natural de Alambre. Em Setúbal, na zona das docas, de frente para o rio e para a iluminada Troia, apesar do espaço ser acanhado, lá pernoitámos sossegadamente numa ruela a caminho da pescaria nocturna de muitos carros com seus pescadores. Atingido o primeiro objectivo (mais de 10 horas de sono!!!), ainda tivemos tempo de dar um passeio rápido pela metrópole de Setúbal, um centro antigo restaurado, arejado e com vida. O Bocage, ou Elamano Sadino de pseudónimo, é ali sempre homenageado (soubera ele e voltava à praça natal...) em cada esquina, loja ou pastelaria.
Outro ponto ideal para este início outonal é a praia da Figueirinha: sol, pescadores, e amantes de banhos de sol meio vestidos , meio arregaçados, e ainda a possibilidade de percorrer o long braço de areia (ou seria o caminho das pedras do JC?)até à ilhota no meio das águas. Essas são limpas, translúcidas , só faltam mesmo os corais. Do outro lado, o verde, arriba acima.
Subir a serra é outro atractivo. Galápos, pequena praia só mesmo descendo a pé; ou Portinho (de autocaravana ainda nunca nos aventurámos), são mais dois pontos naturais a não perder!!!
Para quem prefira entrar mais para o interior, não fica a perder com algumas vilas de Azeitaõ, como Vila Nogueira, uma simpática vila, com muito por onde escolher, nem que seja o sossego bem arquitectado.
Nós optámos por Sesimbra, mas acábamos por mal a conhecer, fomos até ao fim da linha, escandalizámo-nos com o preço das ameijoas e com um campinho atarracado onde 6 ou 7 AC acampavam ao som dos acordeãos. Mais uma vez ficámos sem pisar Sesimbra , para irmos pasmar na praia da Bica, ali, paredes meias com o Meco. Atenção! O “pasmar” implicou : contemplar a imensa paisagem, sestar, ler, e até estudar! Tudo actividades nobres e rentáveis, nada de tédio e inércia perniciosas...
O escuro caiu, e, de repente, acordámos da pasmaceira boa e apeteceu-nos algo mais animado. De comum acordo, e porque são estas as boas partidas que a vida em AC nos proporciona, deixámos a Serra e passámos para o outro lado do rio. Onde foram eles, dirão vocês? Apesar de repetido e nas antípodas das Bicas, o rumo foi até Belém, para o “nosso Quintal”, ali mesmo ao lado do rio, com a benesse de podermos acordar de manhã ouvindo gaivotas, vendo veleiros e saboreando pastéis de Belém.
Na manhã de domingo acordámos , entretanto, com sirenes e apitos. No outro lado da movimentada estrada, mesmo ali na residência cor-de-rosa , assistia -se ao render da guarda, com a ”fanfarra”, turistas e tudo. Era o 3º domingo do mês, ao que parece o dia aprazado para tal cerimónia. Qual costume monárquico, Portugal também se veste de cabeleiras louras, trajes militares, música da banda e cavalaria. E assim se gastam os dinheiros dos contribuintes, para embelezar a imagem da Presidência, enfim, do país solarengo e europeu, de brandos e belos costumes. Toque a banda!
E já que estávamos numa de República , que tal um salto ao Museu da electricidade, para ver o último dia da exposição “Os carros dos Presidentes”? O subtítulo da dita “O motor da Républica” só se lia literalmente, lá dentro, entre Porches, limousines, Mercedes, Citroen e BMW (mais ou menos por esta ordem), relembravam-se os caminhos por onde circularam os grandes da Nação, desde o Estado Novo aparatoso à actualidade mais modesta (só BMW, coitadinhos!). Se pensarmos que a marca alemã se multiplica por ministros, secretários, directores e chefinhos concluímos que o “motor” é afinal o motor gastador!
Estava na hora de pôr outro motor a trabalhar: o do regresso, mas com a barriga cheia de descanso, sol, mar e até de pastéis e presidentes de Belém. Como os pastéis , soube a pouco...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Ainda o dia 11 – Baviera, “um conto de fadas” a sério


De repente, como já referi a propósito da Áustria, já estávamos noutra linha, noutra fronteira, a da Alemanha, mesmo ali ao lado. É tão simplesmente assim: almoço na Áustria, jantar na Alemanha.
E, desde este dia 11 , por sinal o 2º dia de Agosto, começámos a percorrer uma das rotas desenhadas em casa: já há muito tempo que no cesto das revistas lá de casa, dormia religiosamente uma “ Volta ao mundo”, uma bem velhinha (de Março de 2004), que comprei porque a capa com uma paisagem completamente verdejante logo me atraiu. As parangonas , na capa , clamavam “Bela Baviera - Munique e Passeio de Conto de Fadas”. O roteiro e a viagem tinham sido desenhados, vivenciados , narrados e fotografados por Paulo Gama e Luís Catarino. Sabia-o quase de cor, a minha paixão por narrativas de viagem e viagens, acima de tudo, somadas à inveja por não me pagarem para o fazer, explica tudo!
Na crónica “Alta Baviera - como um conto de fadas”, uma fotografia com um certo comboiozinho a vapor tinha-me , desde sempre, aguçado o apetite. O dito transporte de ferro a vapor esfumaçando pelo ar, ficava perto do lago Chiemsee, o tal , mesmo ali, entre Innsbruck e Salzburg, o tal caminho que nos tinha feito pisar a Alemanha subitamente. E foi assim que começámos a repisar o roteiro de Paulo Gama e Luís Catarino.
Tal como eles também referiam nas suas crónicas, a chuva podia ser uma desagradável surpresa... começou logo ali, a metediça, mas sem nos derrotar. Primeiro estacionámos à beira do lago , em Priem a Chiemsse (N 47º51’33,5’’ E 012º 21’ 58,2’’),
depois fomos na peugada do comboiozito a vapor. Tal como já sabíamos, o dito vapor liga duas localidades - Prien e Stock – mas debaixo de chuva e já no fim de tarde, mais os preços que não eram doces, ficámo-nos por uma visão real daquilo que nos parecia fantasia... o comboio de lata ali estava, era real mesmo e apitava!!! Não menos real era o lago, de águas amplas, verdes, com barcos de cruzeiro , de passeio, de românticos devaneios.





Às 19.00 o guarda do parque avisou-nos que não podíamos pernoitar (onde está a Alemanha que eu julgava conhecer?) , porém, muito perto, descobrimos a zona permitida a AC, afinal num sítio bem mais aprazível, para não dizer uma das grandes memórias que por estas memórias ainda se pintam (N 47º 51’ 14.04’’ E 012º 22’ 0.624’’)







Digam lá que não é apetecível?

Continuava a chuva e a chuvita-molha-parvos, a máquina fotográfica não queria saber, disparava fotos atrás de fotos, as autocaravanas iam chegando e estacionando, uma holandesa com três dalmatas que me aconselhou veementemente o “Passeio romântico”, os espanhóis que já haviam dormido na noite anterior em Innsbruck (“olá , vizinhos, outra vez?!”)... e até uma alemã das redondezas que se apeou do seu mini carro e mesmo com chuva mergulhou nas apetitosas águas lacustres.


E idílico...
Noite caseira a contemplar, a jogar e até a ver filmes, imagine-se! O silêncio era doce e tranquilo, tal como o ameno bosque e maravilhoso lago. Que qualidade de vida... e afinal basta tão pouco!




Olá, nuestros hermanos!!!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Dias 10 e 11 – Áustria: “aqui não há cangurus!”


Repito-me:
“Verde, montanhas, neve nos pontos mais altos, alcatifas de verde e mais verde”... eis a entrada na Áustria. .. depois de se comprar a respectiva vinheta, a qual nunca percebi para que servia (nenhum polícia a inspeccionou, mirou, exigiu...), a não ser para gastarmos 7.00€ (quantia obrigatória para 10 dias no país).
Sensação:
“Como sempre, senti que aquela era a minha bola de oxigénio, bem razão tinha o meu ex-otorrino quando me aconselhou a Suíça. Quem diz Suíça , diz norte de Itália ou Áustria...”
Foi pena termos chegado tarde, que é como quem diz. Eram 19.00 horas quando chegámos ao pequeno lugarejo verdejante, intitulado “Hall in Tirol” a meio caminho para Innsbruck, o destino a que nos propunhamos. Mas a área de serviço em Hall estava já terrivelmente cheia, o que não era para espantar uma vez que se tratava de uma meia dúzia de lugares à entrada do Camping Schwimmbad . O local prometia: verde, para variar; uma piscina que nos pareceu municipal, ao lado; uma relva apetitosa do outro lado da estrada... que tinha um sinaleco proibindo estacionamento de AC.
Não quisemos ter uma má estreia no país que tanto oxigénio nos estava a dar e decidimo-nos mesmo por Innsbruck, seria uma forma de já la´estarmos.
E arranjou-se um lugarzinho, depois de umas voltas à descoberta (às vezes tem de ser), lá descobrimos um parque para autocarros (N 47ª 16´13,8`` E 11º 23` 55,1``) onde várias AC estacionavam e, pelos vistos, podiam pernoitar... pagando, claro! A módica quantia de 15 € por noite. Ao menos começávamos já por uma visita à cidade by night.
Seguramente uma das mais belas que já visitei até hoje, os quatro tivemos esta mesma impressão, que nasceu logo ali e se prolongou durante o dia seguinte e nas recordações agora narradas.


Innsbruck

A parte velha, toda ela com ruas pedonais, é um encanto para a vista.

A rua principal da parte velha da cidade ( com os seus frescos e trompe d’oil tão ao gosto austríaco: um gosto requintado, barroco, colorido, apelativo aos sentidos;



a casa onde viveu Leopold Mozart, o pai de Amadeus Wolfgang Mozart (a partir daqui tudo é qualquer coisa Mozart...);



o tecto em cobre dourado da Gondenes Dach, com 2600 telhas douradas;









o encanto dos ferros trabalhados publicitando os estabelecimentos; o início da noite nos restaurantes a roçar o chique; as esplanadas chamativas... ao fim da rua a ponte para o rio Inn e do outro lado a continuação mais moderna da cidade...






Ou não fosse ela uma cidade imperial...


Mais para dentro a catedral de St. Jacob (Santiago), um caminho de Santiago, lá estava a vieira do peregrino a anunciá-la e o seu delicioso larguinho...


Cantos e recantos de suavidade e beleza...






A MarienStrasse com os seus sinais de modernidade e cosmopolitismo:




as galerias à moda do Norte da Europa, as lojas internacionais da Moda (as mesmas de sempre), mas também o espaço largo,amplo;



o ar de arrumação, organização; a montanha ao fundo - sem cangurus - (imaginamos a neve, a piada dos cangurus é mesmo austríaca) constituem novamente AR, oxigénio, um outro estado de coisas... certamente muito diferente de Portugal.




Estas e outras vistas foram admiradas à chegada , à noite e no dia seguinte de manhã. Um belo passeio matinal, que podia ter terminado em multa... quando chegámos ao estacionamento, por volta da hora do almoço, esperava-nos um papelucho no limpa pára-brisas. Afinal o estacionamento era só até às 10.30! Por isso só lá estávamos nós e os autocarros. Como não tínhamos percebido, fizemo-nos de parvos (o que era literalmente verdade) e lá nos perdoaram.
Fomos almoçar ao lado de um dos pontos turísticos da cidade: o jardim de cristal Swarovski, um espaço artificial mas diferente, onde a temática é o cristal. Ficámo-nos por uma visita superficial pelo exterior, cristais não são a nossa paixão.


Jardim de Cristal





Dali , o ponto seguinte seria Salzburg, mas de repente a estrada deixou de ser austríaca e passou a ser alemã. É outra dádiva que esta Europa tem, depois das infindáveis Espanha e França, tudo o que vem é próximo, vizinho... é o que costumo dizer: logo por azar Portugal tinha de estar escondido num cantinho no fim de tudo...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Dias 9 e 10 - O milagre de Santo António


Depois de deixarmos Veneza , e antes de “escalarmos “ até à Áustria (2º destino destas férias), Pádua (Padova) não poderia deixar-se passar em branco, afinal dista de Veneza à volta de uns parcos 30 Km .
O nosso guia (À descoberta de Itália)apelidava-a de “feia”, mas o adjectivo que se nos deparou foi outro , menos feio, mas no mínimo estranho. De facto “estranho” é o qualitativo apropriado.
Por volta das 18.30 estacionámos num parque de estacionamento público, cuja área AC se encontrava fechada para obras (N 45º23`45.06`` E 11º 52`36.264``), mesmo ali, ao lado do jardim-praça Prato della Vale.
À volta, 3 ou 4 autocaravanas, basicamente franceses.

O Prato é uma praça elíptica monumental ( 90.000 metros quadrados), com uma ilha verde no centro (cor que só conseguimos distinguir na manhã seguinte) , rodeado por um pequeno canal delimitado por estátuas. À noite, estas reflectem-se vaidosamente nas águas e o ambiente adensa-se de mistério.


Prato della Vale

De dia, o verde ganha cor e destaca-se das águas. No entanto, talvez porque fosse sábado à noite, a população que enchia o relvado, as pontes, os muros, as árvores jorrava uma certa viuvez e tristeza. Era constituída por homens. Homens, muito homens, que linguajavam uma outra língua que não o italiano, soando a países de Leste, afinal tão longínquos de Portugal mas dali tão perto. A tristeza nublada era essa, eram emigrantes, fora de casa, no descanso de um sábado à noite, jantando na relva parcas refeições à base de pão, alguns com as suas bicicletas estacionadas ao lado (não, não eram certamente marroquinos, como Cardoso Silva alinhavou, fugindo com as suas jovens bicicletas, creio).
Perto do Prato duas basílicas se elevam: a de Santa Giustina e a de Santo António. De noite, a última , e a praça em frente, eram um deserto, assim como as ruas envolventes, marcadas por uma longa e infinita arcadaria.






Basílica de Santo António





De dia, os emigrantes (era domingo) tinham-se evaporado, a praça e a Basílica do santo fervilhavam de crentes, curiosos, turistas...



Na fachada, lia-se (finalmente) uma mensagem em várias línguas, a primeira delas era o Português! Bem , afinal o santo é o nosso (e deles) - António, em Lisboa nascido, falecido em Pádua , na data que aqui (Lisboa, capital do reino) tanto se comemora : 13 de Junho. A mensagem era dirigida a todos, saudando-nos e convidando-nos a entrar, não distinguindo credos, raças, cores, religiões, porque o santo , o nosso António dizia “vinde a mim....”



Pois não percebo, quando, à entrada, só porque envergava uma blusa de alças, me barraram a o passo e me avisaram que necessitava de cobrir os ombros... hipocrisias da Igreja Católica, porque não eram essas as palavras pregadas pelo Santo, ainda pensei em atirá-las à cara do “guarda”, mas o vocabulário faltou-me e decidi , depois de muito refilar com os que me acompanhavam, fazer como a hipocrisia mandava: de um saco de plástico branco cortámos um triângulo e assim me cobri decentemente. Se não os podes vencer, junta-te a eles. Já dentro da Basílica , apesar de imponente, (afinal não tão interessante como o seu exterior) pude fartar-me de tanto objecto tétrico. O Santo Sepulcro é uma exposição macabra do mundo íntimo do pobre António: o manto, o maxilar, a língua... passei a correr e desejei não ter envergado o manto da pureza.





Pádua é também o berço de Giotto. Na Cappela Scrovegni brilham pinturas de Giotto que não admirámos, porque se fazem pagar e caras!
O resto da cidade monumental não parecia muito habitada, tirando, no centro, algumas esplanadas e zona comercial mais modernas, revelando o espírito consumista dos italianos, sempre preocupados com as marcas e o dolce fare niente.



Depois do almoço (estacionamento 10 €, 24 horas), partimos rumo à Áustria, a travessia prometia: verde, montanhas, neve nos pontos mais altos, alcatifas de verde e mais verde. É assim no norte de Itália , os Alpes iatalianos; entra-se no outro lado da fronteira, os Alpes austríacos, o Tyrol e a paisagem não muda: verde, montanhas, neve nos pontos mais altos, alcatifas de verde e mais verde.
Como sempre, senti que aquela era a minha bola de oxigénio, bem razão tinha o meu ex-otorino quando me aconselhou a Suíça. Quem diz Suíça , diz norte de Itália ou Áustria...