terça-feira, 5 de outubro de 2010

Dias 9 e 10 - O milagre de Santo António


Depois de deixarmos Veneza , e antes de “escalarmos “ até à Áustria (2º destino destas férias), Pádua (Padova) não poderia deixar-se passar em branco, afinal dista de Veneza à volta de uns parcos 30 Km .
O nosso guia (À descoberta de Itália)apelidava-a de “feia”, mas o adjectivo que se nos deparou foi outro , menos feio, mas no mínimo estranho. De facto “estranho” é o qualitativo apropriado.
Por volta das 18.30 estacionámos num parque de estacionamento público, cuja área AC se encontrava fechada para obras (N 45º23`45.06`` E 11º 52`36.264``), mesmo ali, ao lado do jardim-praça Prato della Vale.
À volta, 3 ou 4 autocaravanas, basicamente franceses.

O Prato é uma praça elíptica monumental ( 90.000 metros quadrados), com uma ilha verde no centro (cor que só conseguimos distinguir na manhã seguinte) , rodeado por um pequeno canal delimitado por estátuas. À noite, estas reflectem-se vaidosamente nas águas e o ambiente adensa-se de mistério.


Prato della Vale

De dia, o verde ganha cor e destaca-se das águas. No entanto, talvez porque fosse sábado à noite, a população que enchia o relvado, as pontes, os muros, as árvores jorrava uma certa viuvez e tristeza. Era constituída por homens. Homens, muito homens, que linguajavam uma outra língua que não o italiano, soando a países de Leste, afinal tão longínquos de Portugal mas dali tão perto. A tristeza nublada era essa, eram emigrantes, fora de casa, no descanso de um sábado à noite, jantando na relva parcas refeições à base de pão, alguns com as suas bicicletas estacionadas ao lado (não, não eram certamente marroquinos, como Cardoso Silva alinhavou, fugindo com as suas jovens bicicletas, creio).
Perto do Prato duas basílicas se elevam: a de Santa Giustina e a de Santo António. De noite, a última , e a praça em frente, eram um deserto, assim como as ruas envolventes, marcadas por uma longa e infinita arcadaria.






Basílica de Santo António





De dia, os emigrantes (era domingo) tinham-se evaporado, a praça e a Basílica do santo fervilhavam de crentes, curiosos, turistas...



Na fachada, lia-se (finalmente) uma mensagem em várias línguas, a primeira delas era o Português! Bem , afinal o santo é o nosso (e deles) - António, em Lisboa nascido, falecido em Pádua , na data que aqui (Lisboa, capital do reino) tanto se comemora : 13 de Junho. A mensagem era dirigida a todos, saudando-nos e convidando-nos a entrar, não distinguindo credos, raças, cores, religiões, porque o santo , o nosso António dizia “vinde a mim....”



Pois não percebo, quando, à entrada, só porque envergava uma blusa de alças, me barraram a o passo e me avisaram que necessitava de cobrir os ombros... hipocrisias da Igreja Católica, porque não eram essas as palavras pregadas pelo Santo, ainda pensei em atirá-las à cara do “guarda”, mas o vocabulário faltou-me e decidi , depois de muito refilar com os que me acompanhavam, fazer como a hipocrisia mandava: de um saco de plástico branco cortámos um triângulo e assim me cobri decentemente. Se não os podes vencer, junta-te a eles. Já dentro da Basílica , apesar de imponente, (afinal não tão interessante como o seu exterior) pude fartar-me de tanto objecto tétrico. O Santo Sepulcro é uma exposição macabra do mundo íntimo do pobre António: o manto, o maxilar, a língua... passei a correr e desejei não ter envergado o manto da pureza.





Pádua é também o berço de Giotto. Na Cappela Scrovegni brilham pinturas de Giotto que não admirámos, porque se fazem pagar e caras!
O resto da cidade monumental não parecia muito habitada, tirando, no centro, algumas esplanadas e zona comercial mais modernas, revelando o espírito consumista dos italianos, sempre preocupados com as marcas e o dolce fare niente.



Depois do almoço (estacionamento 10 €, 24 horas), partimos rumo à Áustria, a travessia prometia: verde, montanhas, neve nos pontos mais altos, alcatifas de verde e mais verde. É assim no norte de Itália , os Alpes iatalianos; entra-se no outro lado da fronteira, os Alpes austríacos, o Tyrol e a paisagem não muda: verde, montanhas, neve nos pontos mais altos, alcatifas de verde e mais verde.
Como sempre, senti que aquela era a minha bola de oxigénio, bem razão tinha o meu ex-otorino quando me aconselhou a Suíça. Quem diz Suíça , diz norte de Itália ou Áustria...



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