quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Mais uma lição de História em Mérida

Desta vez o pretexto para ir até Mérida foi outro. E bem diferente.
É certo que a Casinha não viajou, mas viajámos nós e ela esteve sempre presente, em muitas conversas, em comparações, em motivos, em revisitações.
Desta vez, um ano depois de uma visita em AC também em Novembro, o motivo foi cultural. Mais concretamente a representação portuguesa de uma peça inglesa, curiosamente em território espanhol. A representação do nosso grupo , SOIR, Joaquim António d’ Aguiar; a peça “Sonho de uma noite de Verão” , do grande Mestre William Shakespeare, num intercâmbio transfronteiriço que este ano se inaugura. Trocas e bel-trocas entre Mérida-Badajoz-Évora.


A peça
Trocas também de línguas e linguagens, de culturas, estórias e já se sabe, porque estávamos em Mérida, de História.
Enquanto o cenário da peça se ia transformando: de pau, ferros, tecidos e escuro em árvores, floresta encantada e semi penumbra encantatória,houve quem fosse guiado pelo “maestro”, actor e organizador Pepe, de Emerida natural.
Primeiro um passeio ao longo do Guadiana, passando pelo antigo “molino” agora transformado em albergue de peregrinos a “caminho de Santiago”. Pelo caudal do rio igualmente alentejano, novos percursos para os amantes de jogging, ciclismo amador, pesca. E também desporto. E SEMPRE, SEMPRE, restos de muralhas, antigos caminhos romanos, pontes velhas , pedras!


A ponte não inteiramente romana e os muros da Alcazaba
Não são umas quaisquer pedras, é certo, é a presença secular de uma grande e espectacular civilização, de Roma até aqui!
Muitos cantos já não eram novidade, desta vez vistos de fora e noutra óptica, como o Alcazar, o Tempo de Diana , agora recontados através das estórias de Pepe, um amador de teatro e da sua terra e suas histórias. Ali , frente ao tempo homónimo de Évora, contou a estória de Santa Eulália, a santa mártir tão apreciada pelos cidadãos da terra. Podem não ser muito católicos, mas ao que parece qualquer emeritense que se preze acredita na sua santinha. Segundo a lenda, por defender o cristianismo, foi trazida pelos romanos de uma localidade onde morava, perto de Mérida, para ser mutilada e sacrificada, mas foi trazida desnuda. O milagre fez-se quando a névoa decidiu tapar a mártir , ocultando as partes despidas da pobre Eulália. O dia da padroeira comemora-se a 10 de Dezembro e cada vez que as névoas se repetem (e em Mérida há muitas), chamam-lhe as névoas da Santa.
A rua mais movimentada e comercial de Mérida( a de Santa Eulália) é paralela à do antigo Fórum da Lusitânia, onde se encontra o Tempo de Diana. Um ano depois, algumas novidades: no apertado recinto, constrói-se agora , à volta do templo, uma espécie de fórum numa tentativa de recriar o passado. Ao que parece está a gerar controvérsia. O que nos foi dado ver, ainda em construção, não abonava em nada a favor do espaço, mas daqui a um ano pode ser que a visão seja menos agressiva.
Conhecemos ainda o outro fórum, o local, mais um recinto cercado de um muro de arame e fossos com pedras sempre por escavar. As esculturas e motivos originais encontram-se no Museu, na parede ao fundo.


A parede do fundo

As sete colunas que dividem as sete alas em comprimento do Museu, foram feitas à escala e dimensão do Arco de Trajano, no centro da cidade. Lá parámos também, sem nos apercebermos da real dimensão desse arco do Triunfo, porque debaixo dos nossos pés se encontra a estrada romana, soterrada , elevando o piso muitos metros acima daquilo que era no passado.




Museu da Cidade e os "sete arcos"
Desta vez não entrámos no anfiteatro nem no circo, mas fomos passando, ouvindo a História, confirmando e preenchendo outros relatos com sillas, Augustos, termas e aurigas.
Não fomos ao antigo reino da arte de representar, mas pisámos, claro, uma moderna sala de espectáculos, a sala Trajano, onde, nuestros hermanos nos receberam e aplaudiram.

Da actualidade, atravessámos a ponte Lusitânia , da autoria do arquitecto Santiago Calatrava, uma ponte original pela qual os peões circulam no meio e no plano mais elevado, enquanto os veículos circulam dos lados. À noite, a iluminação reflecte-se poeticamente no Guadiana. Do outro lado, cresce uma mais moderna Mérida. Do lado direito, o Palácio dos Congressos , um cubo que exibe o traçado da planta da cidade como se fosse vista do avesso, brotando para fora das paredes.
Ponte Lusitânia
Do lado esquerdo, a Biblioteca Municipal, no seio de um amplo espaço verde, onde a escultura de 7 gigantescos livros evoca a lenda das “Sete Sillas”.

Lá ao canto o Palácio dos Congressos

Uma palavra ainda especial para a simpatia dos anfitriões que nos regalaram o paladar com uma espectacular paella em pleno ar livre, num improvisado e salutar pic-nic , paredes meias com a planície da Extremadura e do Guadiana.






E ainda algumas curiosidades: como saber que na Extremadura espanhola existe a profissão de cortador de jamón... com direito a conferências e tudo...
Ou que Pepe é o mesmo que José;
ou que Guillermo e Guillerme podem ser duas assinaturas reconhecidas e assinadas pela mesma pessoa, só porque se é espanhol, só porque se é galego (da Galicia!);
ou que presunto não é evidentemente o mesmo que jamon, porque “presunto” pode ser ladrão ou até assassino: “el presunto (presumível) ladron”, “el presunto assassino” ;
ou que aqueles nuestros hermanos de Badajoz são como nós , amantes de Porto Côvo...
Ficou a saudade da casinha sempre revisitada. Na nossa quinta onde o bus estacionou e nós a relembrámos. Quando a noite chegou e nos vimos confinados a uma camarata fria e inóspita, de um albergue juvenil. Quem nos dera o nosso capuccino quentinho e cheiroso!...



o grupo ibérico

E um especial agradecimento aos fotógrafos aqui autores: Esther, Filipe e Liliana!!!

1 comentário:

Unknown disse...

Parabéns pelo bem concebido relato.
Mérida é, sem dúvida, uma maravilha muito especialmente para os amantes de História.
Vocês captaram-na bem!
E aquele Museu que maravilha!
Bem hajam pelas recordações que nos trouxeram.