sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Quase por água abaixo



Não fomos por água abaixo, mas bem abanados fomos.
Antes esteve sol, antes veio o Verão de S. Martinho, mas no fim-de-semana do dito, ainda por cima com feriado, veio a chuva e o vento e ambos destronaram o sol.
Lisboa foi o grande alvo. E nós, fazendo orelhas moucas às notícias, foi para lá que nos dirigimos na noite de 6ª feira, 29 de Outubro, a das cheias na baixa pombalina. A chuva não havia atingido a “nossa quinta”, paredes meias com o palácio cor-de-rosa. Depois de uma bifana em Vendas Novas ( o berço natal das ditas cujas), Lisboa era a cama mais perto para no dia seguinte prosseguirmos viagem pela costa oeste.
Afinal a chuva amainou e a noite balançou serena.
Depois da tradicional ida aos pastéis de Belém, lá partimos rumo a Peniche. Frente aos Bombeiros, muitas AC invernavam. Alheios a tal, já esperados pelos amigos sem AC, lá fomos ao passeio costumeiro e obrigatório: o forte de Peniche, ex-prisão, actual Museu da cidade.É incrível como um espaço tão carregado de estórias tão sofridas, se insere num quadro de grande beleza quase selvática. Selvagem é também o termo para designar o que por lá se cometeu; coragem e ousadia outros para designarem os nomes daqueles que de lá se evadiram.

Olhar o túnel, com maré alta ou rochas escarpadas é sempre recordar Álvaro Cunhal ou a solitária de Dias Lourenço.

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A chuva, tímida, ia pingando, para à noite nos fustigar, qual chicote mesmo por cima das nossas cabeças. Pernoitávamos na zona do Cabo Carvoeiro, num bairro tranquilo, ao lado de três AC nitidamente de “amigos de Peniche”. Talvez um daqueles que agora me lê ...
No domingo, ainda chuvoso, partimos mais para interior, na miragem de uma feira de Santos e frutos da época. Qual quê! A vizinha Alcobaça anunciava, via Público, uma feira de S. Martinho, mas afinal só se via uma tenda com vendedores de produtos alusivos. Valeu-nos a visita histórico-cultural ao Mosteiro.


Começado em 1178, é a primeira obra gótica em Portugal, classificada agora como Património da Humanidade pela UNESCO e como Monumento Nacional. Para além disso foi também eleita como uma das sete maravilhas de Portugal.
Para além de ser berço da ordem de Cister e terreno para homenagear D. Dinis, também lá se imortalizam os amores contrariados de Pedro e Inês. A visita aos seus túmulos é uma viagem num capítulo da nossa História e Literatura e, também um mergulho na esplêndida simbologia gravada na pedra dos seus sarcófagos, frente a frente, para todo o sempre.







Depois da lição de História (e até de memórias teatrais...), regressámos à beleza fera , selvática, das marés sem dono nem rei nem lei. Como a praia dos Super-Tubos. Ou a do Baleal, cuja estradita era varrida por ventos e areias, desafiando-nos , desafiando-se.
Aquela língua de vivendas térreas e mar de ambos os lados é outra singular beleza natural, pelo homem transformada. Assim como, lá na ponta, a simpática Casa das Marés, onde sempre me apetece alojar. Não fosse ter a minha casinha ali ao lado e juro que experimentaria...
Antes de deixar Peniche, decidimo-nos a dormir lado a lado com mais uma dúzia de AC frente aos Bombeiros, em pleno cenário de muralha e rio.

Segunda-feira acordou com um sol tímido como a metereologia anunciara. Os planos não seriam, pois, gorados, para uma visita até ao Bombarral, no Budda Éden.







A recriação do milionário Berardo, do visionário, do idealista, está ali , à mão de semear , com visita grátis e tudo. Budas imensos, imensidão de pedra e de terracota, num imenso espaço aberto, de verde e árvores ... e até um lago a que só faltavam as barcaças. Visão estranha, pelo contraste, pela invulgaridade, pela grandeza que transpira dinheiro ... a mais...


Para terminar, vamos lá almoçar numa recatado e simples restaurante de Bombarral, por exemplo, um tradicional bacalhau na brasa .
Ao longo do caminho, de Peniche ao Bombarral , acendia-se bem viva a tradição do “pão por Deus” praticada por crianças com sacos de plástico, ansiando por doces.
Nota simpática: graças às fotos emprestadas de A.D. , o Tózinho das canções inspiradas de M., esta crónica de viagens é acompanhada de cores e formas. Obrigada, amigo (e grande Afonso IV) pela lente fotográfica !

1 comentário:

VagaMundos disse...

Apesar do mau tempo ainda conseguiram fazer um belo passeio. Saudades de uma caldeirada em Peniche :)
Bjs