quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Almograve, árabe ou português?


Entre Milfontes e Zambujeira, outro recanto selvagem (certamente de origem árabe pelo menos no que respeita à toponímia), amaciado pelo aluguer a veraneantes que decididamente preferem o sossego, a calma, a pacatez rural e marítima.
O lugarejo é Al…mograve, onde estivemos este Verão (já parece que foi há séculos…), e tem o básico essencial: farmácia, restaurantes, papelaria e tabacaria, mercearia, cabeleireiro e até Pousada da Juventude. A praia tem o mesmo nome e é isso mesmo: um longo deserto de azul – azul do céu, do mar, céu a cair no mar, e ainda rochas, areia e sol. Muito sol. Naquele Verão. Neste final de Setembro certamente que também o será.
 Ah! E à noite um pôr do sol fabuloso, numa paz de silêncio ensurdecedor, só cortada pelo gerador do único restaurante situado no topo da falésia. Pernoitámos descansados ao lado de uma AC francesa (neste Verão que já passou. Se calhar os franceses ainda lá estão, nós não!)

sábado, 10 de setembro de 2011

O paraíso perdido das mil e uma fontes



A Super Bock este ano bem que a publicitou e há quem diga que está na moda. Refiro-me a Milfontes. Fora o vermelho e as “ondas” do anúncio, a terra pareceu-me parada no tempo: ruas desertas, um certo ar estagnado e, o pior, o café no largo do castelo, aquele da esplanada a abarrotar, dos caracóis, das gambas e imperiais… em abandono, fechado. Até o barco que faz a travessia do rio, ou pelos preços praticados ou pela falta de clientes, que é tudo o mesmo, estava às moscas.
Bem, pode ter sido uma sumária impressão, porque apenas estivemos lá algumas horas, optando pelo outro lado do rio, na praia das Furnas, para um almoço caseiro. As AC estavam arredadas desse lado, quanto a mim o mais bonito; na vila aglomeravam-se ao lado de um canavial feio e sem condições.
 Do lado de cá: praia das Furnas
 Do lado de lá: Vila Nova de Milfontes


Estimulante mesmo foi o passeio à redescoberta da cascata perdida, algures pelo monte acima… seria ela uma das mil fontes ou seria ainda mais uma a acrescentar às mil? O certo é que ainda lá está, escondidinha tal qual há vinte anos atrás, no meio do arvoredo, qual vegetação do Gerês à espera de um mergulho, com a diferença de que as águas aqui não eram frias. Há coisas que afinal não mudam, bem, nem tudo era igual, desta vez havia mais gente à sua procura, jovens peregrinos, tal como nós o éramos há vinte anos, fazendo-se à descoberta do paraíso perdido, ali, a escassos quilómetros do rio e do mar.
Continuo é sem saber o nome da cascata…

À procura da cascata                                                                            Ei-la!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

"Não há festa como esta"



Não, não se trata de mais um Festival de Verão apesar de ter mais música por metro quadrado do que os ditos , e apesar de também ser no Verão. Trata-se da Festa da música, do teatro,  do livro, do disco, da gastronomia portuguesa e do mundo…; da celebração da igualdade, liberdade, fraternidade, enfim, a Festa do Avante.
Este ano com menos calor relativamente a outras sufocantes Festas, mas com igualmente milhares de visitantes, camaradas, amigos.
Desta vez registei também um maior fluxo de autocaravanas estacionadas em parques distintos, um deles a Garagem Gamero, a 5 € o dia.
A reter na gaveta memorial da música, a noite de Ópera  que celebrou autores como Verdi,  Mozart, Beethoven , entre outros, nas vozes límpidas de cantores como Ana Paula Russo e João Pedro Cabral …..Temas como  “O Barbeiro de Sevilha” e a “Traviata” ou “Granada”   e… abaixo do céu estrelado flutuavam pérolas, pérolas celestiais bafejadas de notas musicais.
No sábado a agenda foi longa: pena o Sérgio Godinho ter insistido cantar no Auditório à mesma hora dos Clã, e pior ainda (para mim, não para o ego dele provavelmente) , quando a tenda encheu  de tudo: música, pessoas, calor quente e insuportável … e o Sérgio lá longe, entoando velhos temas e a juventude e os cotas a cantarem de cor, com vontade de um mundo mais justo e melhor.
Fora as notas musicais (esquecia-me de saudar a lufada de ar fresco que foram os Budda Power Blues – viva!) , ainda  um belo bolo do caco madeirense, ovos moles gulosos (e caros!!!) de Aveiro, pataniscas de Santiago, canja alentejana e caldo verde de Gaia!!!
E também a Bienal de Arte e a falta de dinheiro para encher sacos e sacos de livros, CD e vinis (vivam, que estão novamente na moda!).


Soprava à noite uma brisa bem fresquinha do rio, infelizmente pouco azul , infelizmente nada límpido.
Na relva de um ano inteiro sobressaía o castanho da terra e milhares e milhares de plástico e vidro derrubados, formulando-se na minha boca a mesma questão eterna e sem resposta: por que razão as pessoas sofrem de um síndrome de porcaria, quando ao alcance da mão há caixotes, reciclagem, recipientes?

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Festival Sudoeste: a cantar de galo com o galo Timóteo


Era eu um pinto (o Timzinho) quando a coisa estalou lá para baixo, pró Sudoeste alentejano, numa terriola pouco conhecida, chamada Zambujeira do Mar. Era assim nesses primórdios quando eu ainda ficava na capoeira sem cantar de galo: os moços (adolescentes de ganga e mochilas às costas, punks com cristas como eu tenho agora, hippies com os seus cães rafeiros e molengões) eram largados no largo da igreja e depois iam a pé até ao Festival. Quase 4 km. Pelo caminho iam comendo o que apanhavam, ao que parece milho (ainda dizem que o milho é só para as galinhas!). O certo é que o milheiral ficava depenado e eles prosseguiam viagem até ao sítio. Lá chegados, abrasados e consumidos pelo calor, banhavam-se todos os dias no canal com gel e shampoo. Estes corriam por ali abaixo até Zambujeira e saíam depois nas torneiras da população. Para escorraçar os vómitos e a caganeira, a população muniu-se de comprimidos contra o flagelo. Mesmo assim, nos restaurantes e afins tudo se esgotou. Ninguém estava preparado para tamanha enchente. No ano seguinte a população ameaçou fechar o comércio caso a coisa não tivesse mais condições.

Hoje, passados catorze anos, já a cantar de galo e com direito ao nome por inteiro (Timóteo), fui ao Sudoeste. Os moços – de ganga, com calções de marca, hippies, punks e para todos os gostos - têm autocarro com 1º andar descapotável e já não vão a pé. Se ainda comem o milho, desconheço, é provável que sim, porque alguns mostram sinais de fome. Os banhos já não são todos no canal, há uns duches improvisados e os tanques das enguias.
Eu cá, fui mais fino. Fiquei numa autocaravana cor-de-rosa com a malta, às portas do recinto, sem me meter nas confusões, a ver as filas para o autocarro.


(Eu e a "malta")


(Por falar em filas, ainda me meti na fila do Intermarché, em S. Teotónio, e tive de desistir e ir ao “talho Simpatia -aberto todo o dia” onde vi o espectáculo degradante de galinhas depenadas em atitudes menos próprias.) Bem, da minha “esplanada” ouvia os concertos, enquanto depenicava melancia banhada em whisky! Lá dentro ninguém me revistou e devo ter sido o único a não pagar bilhete (afinal já tinha a pulseira lá da capoeira…).


(As filas)


(Eu e a"malta" na Pinkie)

Também fui à praia. Enquanto os outros procuravam um rectângulo para estender a toalha, a mim bastava-me o poleiro das varetas do chapéu de sol. Ainda por cima à sombra!


(Zambujeira sem espaço)


(Zambujeira a fingir que tem espaço)


Só não fui à praia dos Alteirinhos, o espaço oficial da coisa, muito mais confortável e legalmente aprovada como praia naturista. A avaliar pela experiência do talho Simpatia, o melhor foi não ter lá ido. Eu cá sou um galo moderno, mas sobre nudez (e sexo, por exemplo) ainda penso como o meu avô, que adulterava provérbios, ” cada galo no seu galho”.

(Alteirinhos)


Bom, pode dizer -se que a minha estadia foi “5 estrelas”, à excepção da madrugada, quando eu simpaticamente anunciava o novo dia e o pessoal se punha a insultar-me e até mesmo a ameaçar-me de me torcer o papo. Se os outros cantavam até de madrugada, por que razão eu não podia continuar o concerto? Essa é que eu não percebi e confesso que me pareceu mal.

Vistas bem as coisas, agora que a coisa já arrefeceu, não sei se volto para o ano. Se calhar já ‘tou velho para estas andanças e nunca se sabe quando me passarão a tratar por “cabidela”…


P.S. Esta crónica não é inteiramente ficção. Caso seja lida pela “malta”, espero que nela revejam o seu protagonista e não levem à letra a última palavra.