domingo, 27 de novembro de 2011

Vilas alentejanas ao abandono


 


No Crato viveu e teve peso, desde 1340 até à sua perseguição, a Ordem do Hospital , mais conhecida por Ordem de Malta ( oriunda de Malta, mesmo Malta, na Itália). O Crato foi a sua sede e seu emblema heráldico assenta ainda hoje em todas as placas toponómicas das ruas e em muitas das fachadas de palácios e palacetes. Aliás, no Crato, imperam palacetes, infelizmente alguns em elevado estado de abandono, assim como outras casas menores, que, ou estão em estado crítico de venda ou em estado do mais puro abandono.

Na praça principal, a varanda do Grão Prior, o último testemunho do imponente Palácio dos Priores do Crato.


 
Frente ao Pelourinho, a casa de turismo rural, Casa do Largo.





No topo da vila, o castelo do Crato, antigo castelo da Azinheira, data do século XIII. Foi doado no século XIII à Ordem do Hospital e parece ter sido destruído aquando das invasões napoleónicas. Hoje abandonado e de branco pintado, encontra-se vedado e, segundo a população, é pertença de um particular, aguardando obras de revalorização.

A vila, num domingo à tarde, revelou-se pacata -  para não dizer quase fantasmagórica - mais um exemplo de desertificação e de envelhecimento populacional, tão ao jeito do nosso interior alentejano.

Outros pequenos pormenores, como o branco e o ocre alentejanos em declives ascendentes ou descendentes, conforme as perspetivas, encheram o olho…

Fica apenas a 22 km de Portalegre.

sábado, 19 de novembro de 2011

A estrada da saia pintada





 
“Marvão vê-se de castelo de Vide”…

Nós, porém, fizemos o percurso contrário de Viagem a Portugal, do viajante José Saramago.

Apesar disso, e apesar de mais de vinte anos depois, o que um viajante viu, este, de casas às costas também viu. Aproprio-me das palavras daquele, usando as imagens que cristalizei:

“ … se é homem de justiça(…) haverá de recordar-se daquelas duas filas de árvores que em duzentos ou trezentos metros ladeiam um trecho da estrada logo depois de Castelo de Vide : alameda formosa de robustos e altos troncos, se um dia se achar que sois um perigo para o trânsito de altas velocidades do nosso tempo, oxalá vos não deitem abaixo e vão construir a  estrada mais longe”.

Ainda lá estão as duas filas, ainda lá está a alameda , a mota passava a alta velocidade e passou ilesa; já para as autocaravanas – nas quais Saramago não pensou nem mencionou – a curvatura das árvores e o arco da alameda metem algum respeito , mas como a velocidade é reduzida,  por enquanto não há perigo…   


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Castanhas e cores outonais




À procura de alguma animação pitoresca e de uma lavagem cerebral para o depois e o antes das depressões laborais, mas… a escolha não foi a melhor.
Marvão no topo                                                      Capela em Marvão

Dias 12 e 13 de Novembro, à procura de um São Martinho inspirador como há uns anos atrás no Algarve, mas que aqui, no Alto Alentejo, saiu com pouca genuinidade. Quando digo Alto Alentejo refiro-me literalmente àquele alto de pedra, já a pender para a Beira Baixa, no topo da Serra de S. Mamede, paredes meias com a raia espanhola: Marvão era e a sua Feira da Castanha. Nunca imaginei que fosse tão concorrida e não cheguei a perceber porquê.  É claro que o cenário natural é de peso, a vila enquanto palco para festividades ao ar livre também, mas ao Município de Marvão faltam ainda muitos lampejos de criatividade. A imaginação fica-lhes na base da pirâmide intitulada “fazer dinheiro”, começando logo com a subida de 5 kms de Portagem até ao local, por 3 euros o casal, e continuando com o eurito cobrado è entrada da vila, cujas portas eram zelosamente guardadas por uma barreira humana de ar pouco amistoso, como se fossemos entrar para o matadouro ou algo parecido. Curiosamente e contrastando com a nossa última visita fantasmagórica a esta vila medieval, desta vez, havia pessoas, cheiros, sons, e também o que nunca antes tinha visto: portas e portões abertos de casas particulares. No entanto, todos os esforços tinham sempre como objetivo a venda fácil e pouco atraente de algo (basicamente artesanato) que pouca relação tinha com o espaço ou a ocasião. Até nos quiosques de rua… até na música que brotava das colunas da vila (“Ai , Lisboa…”) e  dos grupos cantadores que pelo palco do arraial iam passando. A experiência durou 45 minutos e custou 7,75€, entre transportes, entradas e a prova do vinho novo e das castanhas, o único motivo da visita. As castanhas estavam podres, o vinho bebeu-se.

Para sossegar os ânimos, e longe da confusão, optámos pela calma do Sever e suas águas, na pequena povoação de Portagem. Desta vez sem banho e com a maré baixa, contemplámos o silêncio.


                                                              Piscina outonal de Portagem


E, como um azar das escolhas nunca vem só, escolhemos certamente o pior restaurante para jantar. É verdade, depois de vários meses a fazer como a Troika dita (sem frequentar restaurantes) decidimo-nos preguiçar e degustar produtos da época, do veado desistimos para ir ao naco de porco e ao javali, e ali, no “restaurante Sever”, nada de especial o paladar gozou. O naco pouco condimentado e o parco acompanhamento do javali fizeram-me pensar que as capicuas da data (o dia anterior) não eram sorridentes a estes viajantes.

Ficou o quê? O silêncio da noite encostada ao Sever e, ao acordar, as cores outonais. Essas não mentiam, não.







                                                 Ponte romana em Portagem




quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Praia para vestidos e despidos


Praia dos Alteirinhos: uma das praias naturistas de Portugal, Alentejo, no sudoeste, ali, paredes meias com Zambujeira do Mar.
Há 20 anos atrás, chegava-se lá descendo (e subindo) a pique pela falésia rochosa, entre escorregadelas, deslizes de pedras e pedrinhas e quiçá alguns arranhões. Agora, a paisagem passou a humanizada e o percurso é mais leve, via uma escadaria de madeira. Lá em baixo, muito, muito em baixo, continua uma extensão considerável de praia. Longe das multidões caóticas de Zambujeira, especialmente em época de Festival que era o caso. 
Este ano, era inclusivamente a praia oficial do evento, com a TMN lá instalada no areal. A sua marca azul estendia-se ao longo da praia e no mar, com aulas grátis de surf. Para lá das rochas, no sossego de algum isolamento, alguns nudistas.  
O cenário natural é, de facto, paradisíaco, pena a temperatura da água estar longe do ponto.
Apesar do sinal de proibição, as AC dormiam lá em cima, a escassos metros dos Alteirinhos. Ficámos lá uma noite. Completamente em sossego. Na manhã seguinte veio a GNR, mas ficou tudo na mesma e na mesma paz dolente e calma de agosto (perdi as coordenadas, mas para lá se chegar basta entrar na estrada S. Teotónio-Zambujeira do Mar, virar-se na cortada assinalada com “Turismo rural – Monte de Alcaria”, depois é ir até ao fundo sem cair no mar!...





terça-feira, 1 de novembro de 2011

Passo a palavra: camping Monte Carvalhal da Rocha



Em Agosto, abrimos o mês com uma exceção nestas coisas do “acampar”, passando dois dias relaxantes à alentejana, isto é, sem nada fazer… no nada alentejano. Agora, em Novembro, apesar do tempo estar pouco convidativo, passo a palavra.
O nada (que afinal é tudo, como dizia Fernando Pessoa) é um camping situado no sudoeste alentejano, a parcos metros da praia do Carvalhal, a 3 Km de Zambujeira do Mar e a 10 de S. Teotónio, distrito de Odemira. Na placa e no site lê-se : “Monte Carvalhal da Rocha”. (http://www.roteiro-campista.pt/Beja/ing/montecarvalhal-frame-uk.htm)





No alto do monte, olhando uma tira azul do Atlântico, o dito camping respira verde e casinhas alentejanas de “cal” branca e roda-pés ocres e marinhos, tudo esmeradamente cuidado e pensado. Um trabalho de longos anos de dedicação de uma família alentejana (pais e filhos) que faz do espaço o seu refúgio de trabalho, de hobby, de família, de amizades.


Para além do espaço confinado ao campismo, há ainda apartamentos rurais de extremo bom gosto, o restaurante de largas janelas e terraço, a simpática piscina, a esplanada soalheira e, do outro lado da estrada, a raça equestre em alegre passeata e a quinta biológica de tomates e pimentos coloridos, abóboras frugais, outros vegetais e animais…

Registe-se a simpatia do hortelão, assim como a hospitalidade servida em oferendas que nos acompanharam à mesa por terras de Portugal.




Ali perto, algumas praias a conhecer e saborear: a da Machada (vulgo, da “Corda” – que não vislumbrámos…) e a do Carvalhal, uma tira de areia por onde o mar vai entrando, formando pequenas “baías” que são a delícia da pequenada.. No parque de estacionamento, algumas AC. Poderá ser uma alternativa ao Camping (enquanto a lei o permitir), mas como já disse, desta vez abrimos uma exceção. Em boa hora!