terça-feira, 12 de novembro de 2013

boas letras e boas sopas



Menos elitista que a Golegã, ou não fosse berço de comunista , temos a vizinha Azinhaga do Ribatejo.
Logo na praça principal (a única , creio) lá está o Pa


i de Baltasar e Blimunda, segurando o livro que foi a sua vida , olhando para o infinito com os seus olhinhos pequeninos .
Uns metros à frente,  a  casa que o viu nascer, agora à moderna , sem marcas da sua presença, apenas a lápide, apenas as palavras. Por ali passou, nós, seus meros leitores, registámos.

E já agora: quando lá passarem, cumprimentem o Mestre e parem para um cozido ou outras sopas da terra, na Tasca do Maltez. 











domingo, 10 de novembro de 2013

Elites, cavalos, castanhas e Quim Barreiros




Feiras e mercados na época do São Martinho é o que não falta em Portugal.

A  da Golegã (Novembro: fim de semana de 2 e de 9), com quase 4 séculos de história , pareceu-nos uma bom começo  para este 2013 de crise e buraco orçamental. Sem dinheiro e com tanto cavalo lusitano, certamente não teríamos onde o gastar.


Mal conhecíamos a chamada terra dos cavalos, mas também não foi assim que mais conhecedores  ficámos.  As ruas, fechadas ao trânsito e atravancadas de barracas e vendilhões, não nos deixaram ter uma visão ampla da terra.
Ficámo-nos pois com a imagem da Golegã daqueles dias de festa, com  a nossa visão e com  aquela que os canais televisivos nos foram oferecendo durante a semana inteira, com mais ou menos cavalos, mais ou menos música pimba.
Cavalos, cavaleiros e outros afins pressupõem desde logo um certo elitismo e era com ele que íamos a contar. Confesso que pensei que fosse pior. Mas não, a Golegã revelou-se uma mistura de cheiro a cavalo, elitismo de classe e muito povo a apreciar as vistas, outro a desejar ser como os cavaleiros, outros a decidirem imitar a elite, ficando-se pela compra de peles, chapéus ou botas de cano alto. Ou outros ainda apenas fotografando de uns e de outros.
Na praça central – o mesmo carrossel giratório toda a semana: ao longo da arena durante horas a fio, as charretes-táxis, os cavaleiros, uns mais à antiga, outros mais contemporâneos, de telemóvel, ténis e calças de ganga. No centro as provas, os prémios, o espectável.









Esperasse eu mais folclore e mais tradição, mas talvez isso fosse doutros tempos ou da minha imaginação.  Pelo menos vi  a senhora das castanhas.


Estas e outros  e frutos secos eram muitos, bem com o  cheiro  a bons nacos de carne, cerveja e vinhos com fartura, massa frita e cavalos de plástico, Quim Barreiros e outros produtos nacionais.  Até casas para cavalos, parecidas à nossa, ao que chegaram as modernices.
E muito negócio, ou não fosse feira. Cada porta ou portão encerrava um novo bar, improvisado ou para a família.



Cada rua ou sinalética é ainda outro cavalo ou … algo com ele relacionado.





As cores , ocre e azul, são como as da minha terra e , como sempre, não resisti a portas e janelas…



Foi também numa “quinta “ improvisada que dormimos… 5 euros a noite com direito a estacionamento dois dias.
Cumprimos a nossa parte de turista em crise, comendo sobretudo  com os olhos e fechando-os numa noite bem dormida, porque isto do aumento das horas de trabalho semanais aumenta no sono ao fim de semana. Roncar é preciso!

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Uma autocaravana “de cortiça”



Há 56 anos atrás, que é como quem diz, por volta 1957, um agricultor e proprietário alentejano,  aqui em Évora e arredores  conhecido por Menino de Ouro, lançou mão na defesa do seu património.
A céu aberto e durante a desprotegida noite, ficavam as suas toneladas e toneladas de cortiça, à mercê da gatunagem. Não fez mais nada, “ o seu a seu dono”, e nada como ser ele a defender o seu, pernoitando aqui e acolá, na defesa da sua preciosa cortiça.

Ia dormitar ao relento debaixo de um chaparro, também ele exposto e sujeito a tornar-se vítima? Armaria um qualquer pano, preso de uma a outra azinheira, qual tenda improvisada? Não senhor, já que tinha de deixar o conforto do lar para se armar em defensor, por que não uma casa móvel de cama já montada, fogão para o chá e armário para as botas e manta?




 Hoje, o atual proprietário, ilustre proprietário do restaurante Mr. Pickwick, dá com ela uns passeios pelo centro histórico de Évora, debaixo dos olhos curiosos de turistas e locais.
Dormir e cozinhar? Isso é que já é de mais, para tal existem os hotéis e restaurantes…



domingo, 29 de setembro de 2013

Começou outono



Há oito dias atrás fazia sol e estava calor em Lisboa, assim:

 











Era o fim do verão.

Hoje chuvisca e o tempo está ameno e triste. É o início do outono.
No meu quintal a camisa branca esvoaça  e Lisboa está lá longe. Já passou uma semana.


Estava calor e em Lisboa havia de tudo: muito barulho em Belém , uma piscina fabulosa em Monsanto, e , nas ruas de Lisboa,  muita gente e um fervilhar de atividades.
Experimentámos o Lisboa Week, esgotado! Tentámos um passeio pelas ruínas romanas nas profundezas da baixa pombalina, uma fila até quase o Rossio! Tentámos apanhar o bus, o dia da “mobilidade” tinha alterado a rota!
Deixámo-nos guiar pelas colinas. Um salto até as ruínas do teatro romano – que calor!


Mais um esforço e uma ida ao castelo. Fila e bilhete para pagar. Pronto, deixa lá, fiquemo-nos pelas paisagens no início de Alfama ou por um relax no Chapitô! 





(uma nuvem de palha d'aço)






Mais uma voltinha e a casa dos Bicos , a fundação já estava fechada , nada de Saramago , só um vislumbre do seu elefante…



Não interessa, continuemos a respirar o cheiro alfacinha e a pequeno almoçar pastéis de Belém; procuremos no Terreiro do Paço uma feira de artesanato; na rua do Ouro a animação habitual. Lisboa está tão cosmopolita…
Subi, subi até à Avenida da Liberdade. Bolas, que calor, nada como uma imperial, ali, no Banana’s Bar,  junto ao som poético de  Pacman, agora “Algodão” em vez de “Da-Weasel”.



( O rapaz gosta de cantar descalço, qual Cesária Évora...)


A noite cai. O calor continua, bares e restaurantes cheios, no Chiado os turistas começam a descer ,  outros ainda querem subir no elevador, para nós está na hora de outras paragens.
Em Monsanto tudo tranquilo. Amanhece. Outra vez piscina.



Foram o quê ?  Vinte e quatro horas de final de verão, o outono vai começar.
Hoje já começou.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Do lado de lá do rio Douro

Pode ser Porto, pode ser Gaia, mas socorrendo-me das anedotas, partamos do princípio que o lado de lá é Gaia.
(- Qual é a outra cidade portuguesa em Portugal com 6 pontes?
- Gaia (que está no outro lado do rio)”
ou “mais vale uma casa no Porto do que a Gaia toda”.

Desse lado de lá, ainda segundo o ponto de vista da minha amiga Fernanda, do Porto, a geografia das ruas é sem nexo, só chegando à beira rio, estamos na melhor parte de Gaia, porque se vê o Porto em toda a sua grandeza e plenitude.



Deixando de lado as intrigas bairristas, comecemos por Avintes, mais precisamente (não pela broa, aquela escura tipo pedra que era cozida num forno tapado por bosta de vaca e que sabe tão bem…) pelo Parque Biológico de Gaia. Este é o primeiro centro permanente de Educação Ambiental do país, 35 hectares onde vivem em estado selvagem centenas de espécies de animais e plantas. O parque facilita ainda a possibilidade de pernoitar em duas versões: em quartos no edifício principal ou numa simpática zona para AC no meio do verde, ao som de papagaios e outros que tais (41º 05´48.50 ‘’N / 8º 33´21. 34 W). Até ao Porto são 7 quilómetros e há a hipótese de ir de autocarro.







Antes, porém, de atravessar para a outra margem, há que conhecer a zona ribeirinha de Gaia. Para o autocaravanista que procura novas paisagens e gosta de parar sem vedações ou muros, tem a hipótese de estacionar e até mesmo pernoitar no parque de estacionamento do Cais do Cavaco (N 41 08. 604 – W 837. 948). O local é meio fantasmagórico graças à mansão abandonada no cimo do monte, não é vigiado, mas a polícia pára por lá frequentes vezes no seu giro. Ficámos lá três noites e foi pacífico.





Até ao cais da Afurada é menos de um quilómetro, até à zona das caves do vinho do Porto são 1, 200 m. De bicicleta ou a pé ambas as distâncias se percorrem agradavelmente acompanhadas por uma paisagem que está sempre a mudar.

Já noutra ocasião falei da Afurada, das suas ruas castiças, da limpeza das suas portadas e passeios (mencionei o cheiro a Clarim quando a roupa dança no estendal?).

Entretanto, a marina da Afurada foi renovada, vale a pena um passeio até lá. Mais para o lado do mar, não esquecer as praias dessa linha, Canidelo, Madalena e tantas outras.

Voltando ao cais do Cavaco: dirigindo-nos na direção oposta à Afurada, até à ponte D. Luís, as vistas são outras. A azáfama dos pescadores de cana ao longo do passadiço, os cruzeiros pelo Douro e suas pontes, gente que passa, gente que pedala de bicicleta, o moderno e o velho, as tainhas a borbulhar na água, o Zé da Guida, esplanadas, lazer e, finalmente, as caves. Pululam ao longo da encosta acima, ruelas e ruelas delas, marcas espreitando e convidando o palato e a bolsa.



















Escolhemos a do “Zorro”, afinal Don, mistura do estudante português com a sua capa negra e o sombrero espanhol a evocar a uva sherry. Esta imagem de marca desde 1928 é da Sandeman, fundada em 1790 por um escocês do mesmo nome. Se no séc. XVIII as uvas viajavam do douro vinhateiro 100 km a leste nesses rabelos afora e depois rebolavam nas suas pipas até às caves, agora, mais sofisticadamente, acomodam-se frigorificamente em grandes camiões até ao destino. Aqui chegadas, dormem até ao estado perfeito em pipas e balseiros e , tornadas vinho, são-no com três nomes próprios : o branco, o Tawny (à portuguesa, o Toni) e o Ruby (Rubi). No fim da visita o Zorro dá-nos a provar o branco e o ruby. Saúde e biba o Futebol Clube do Porto!

















A beira rio é movimentada, os ingleses dos tempos modernos beberricam o vinho doce, petiscam peixes e entradas, viajam pelas seis pontes, vão no teleférico até quase à serra do Pilar.

Quem vem e atravessa o rio

Junto à serra do Pilar Vê um velho casario Que se estende ate ao mar

És cascata, são-joanina
Erigida sobre o monte
No meio da neblina.

Quem te vê ao vir da ponte

Carlos Tê/ Rui Veloso



É a vez de passar para o outro lado e admirar as toneladas de ferro até ao céu, percorridas por carros, camiões, metro e peões. A ponte D. Luis foi inaugurada em 1886 e substituiu a antiga ponte Pensil, a qual apenas deixou para amostra os seus pilares… Mas isso fica para a outra margem, para o lado de cá do Douro…