sábado, 19 de janeiro de 2013

Uma concha com pérola




Guardei a melhor parte para o fim (apesar de estarmos em janeiro e eu a ter conhecido em agosto)… quem?
A concha , a pérola Donostia/ San Sebastian, classificada com duas estrelas no Michelin verde, pontuação que eu reverteria para cin.
Conhecêmo-la com chuva e com sol. No primeiro dia (em pleno agosto, imagine-se!) chovia copiosamente e as borboletas no estômago gritavam “Quero conhecer a cidade, quer ir “à vila”*, quero ir!). Chegados à área de serviço para AC (  N 43º 18’28,3’’   W2º00’ 52,20   - 6,25€ por dia com o básico e eletricidade, mas em local sossegado), envergámos capas, kispos, parkas e “sombreros”, apanhámos o 33 para o centro (caro como o diabo: 12 € para quatro!!!)e … eis-nos enfim na capital de Gipuzkoa!
Paisagisticamente o quadro não podia ser melhor: uma maravilhosa perspetiva enquadrada numa baía em forma de concha (daí o nome de uma das suas praias), cercada por dois montes e à frente uma ilha -  a de Santa Clara.

Praia Concha e ilha 


O “casco viejo” lembra o de Bilbao , com as suas ruas estreitas e paralelamente desenhadas, repletas de bares donde espreitam e emana o cheiro de numerosos e deliciosos pintxos!....
A contrastar, a parte moderna, com largas avenidas, prédios altos de rica arquitetura.


Preferimos a parte velha detendo-nos na praça da Constituição com as suas janelas numeradas, correspondendo às antigas tribunas para ver as touradas, uma vez que estas aqui se iniciaram antes de haver praça de touros. Também a praça da Trinidad nos fez parar e admirar, assim como as igrejas de Santa Maria e San Vicente.


praça Constituição


Trinidad


sem comentários...


Do lado oposto, na parte mais moderna, a catedral El Buem Pastor. Mesmo com chuva foi este o nosso roteiro inaugural, fecha e abre a boca de espanto, fecha e abre o guarda-chuva e mais uma corridinha até ao lado do monte Urgull onde se estende a zona portuária e dos restaurantes e o concorrido Aquarium. Abrigámo-nos da chuva num bar Guiness e era uma Donostia irlandesa….

Espanto! No dia seguinte o dia acordou banhado em sol, pelo que nos lixámos para o 33 , pegámos nas bicicletas e madrugámos, respirando sol, ar puro e maresia.
Primeira paragem: via teleférico até ao monte Igeldo, mais pelas vistas do que propriamente pelo local em si: um ultrapassado parque de diversões do tempo da rainha Cristina .
Descendo até ao cantinho da praia Ondarrete, uma visita obrigatória ao “Peinte del Vento “, esculturas a céu e mar abertos, cercadas pelas ondas e pelo céu, do basco Eduardo Chillida, um dos ex-libris da cidade.



Pedalando alegremente pelo passeio marítimo chega-se a mais um dos palácios reais, como em Santander, desta vez o palácio Miramar, ex-residência da “Cristinita”.


 Para além da paria da Concha (onde dei um dos melhores mergulhos da minha vida) , há ainda o paraíso dos surfistas – praia Zurriola -  no centro de uma parede de alumínio, o pavilhão dos Congressos.




Qualquer uma das praias é apetitosa, assim como a parte velha, ou a parte nova, faça chuva ou faça sol. O ambiente é de cor, alegria, juventude.

Mergulho das 20 horas.

Como é possível passar durante tantos anos na autoestrada , ler a placa e nunca ter entrado a não ser em 2012?
Se ainda não o fizeram, o que estão à espera? A partir de agora, cá para estes viajantes, será paragem obrigatória de cada vez que tivermos de passar além Pirinéus!



domingo, 13 de janeiro de 2013

Zarautz, conhecem?




Afinal os bascos sabem, era dia  4  de agosto, sexta feira, quase fim de semana e à noite as pingas gordas caíram, uma pequena sinfonia no teto da autocaravana.
Estavam 27º mas um céu cinzento. O fim de semana estava no ar, os bascos é que sabem.
Percurso: Zumaia-Getaria- Zarautz. As últimas duas distam uma da outra 3.800 metros que os locais percorrem ao longo de uma “ecopista” cosida ao lado do mar.
Atravessámos Getaria de carro, pareceu-nos azafamada e movimentada e não nos apetecia confusão. Vista de Zarautz , Getaria é como um rato e assim falam dela : “El Raton”. 

Já Zarautz é o reino dos surfistas e a rainha das praias vascas em extensão e popularidade. Cosmopolita, com as suas barracas às riscas (no dia fechadas porque a chuva ameaçava), geladarias, turistas, movimento…


Afinal descobri agora – quase 4 meses depois – que toda a gente que eu conheço, já conhecia Zarautz… pelos vistos, chegámos atrasados. E em má hora, porque era 6ª feira , queríamos (coisa rara) ficar em parque de campismo e estava tudo esgotado.
Estacionámos numa avenida ao acaso, desde que se pagasse, nada contra.
Zarautz é elegante, chique, ampla, limpa. Na parte velha da cidade, alguns exemplares medievais como a Torre Luzea e a Igreja de Santa Maria Real. 




O comércio é também abundante e com gosto (caro!) ; as calles simpáticas, certamente um local que não é para todos os bolsos… ainda assim pululava de gente, rios de gente. Nas praças o cheiro viciante dos pintxos, a alegre cavaqueira das conversas alegres, mas claro, antes ou depois da siesta, durante, tudo é um deserto…
E tudo isto graças (ou culpa) da rainha Isabel II, desde que aqui se instalou , nas suas férias de verão.
À hora do almoço, seguindo a intuição, estacionámos “fora de portas”, na zona desportiva. Afinal era também uma zona de pic-nic onde cozinhámos o nosso saudável almoço. Depois da siesta (“Em Roma, sê romano”), voltámos à povoação. O céu tinha evoluído de cinzento para branco, a chuva não tardaria. Bandeira amarela e “olas” de se lhe tirar o chapéu, chegavam até ao passeio. Dentro de água só surfistas e suas pranchas e dois alentejanos doidos que faziam do corpo a própria prancha…

A chuva começou. Lá longe o “El Raton” mal se via , borrifado pelo nevoeiro e pela água da chuva.
No regresso rendemo-nos a uns pintxos, só para abrir o apetite para o jantar. A montra fazia crescer água na boca, a cozinha em miniatura é um festim para os olhos e para as bocas.





Pernoitámos sossegadamente na zona de pic-nic da hora do almoço, ao lado de vários surfistas em Vans, só nos faltava a prancha…


domingo, 6 de janeiro de 2013

Zumaia, outro nome musical…




Menos de 50 km de estrada e, sempre acompanhados de um belo cenário, chega-se de Leketio a Zumaia.


Íamos na esteira do flysch costeiro, uma paisagem lunar presente em todos os guias e manuais turísticos, mas, mais do que o curioso fenómeno natural, Zumaia tem outros atrativos. E o maior de todos é o ambiente, o ar simples de veraneio, o mergulho de outros tempos saltado da ponte, aqui vou eu, como se nem houvesse praias por perto.




Mentira, Zumaia tem, pelo menos, duas belas praias. A de Zumaia, onde se exibe o vaidoso flysch. Parámos para umas fotos e, no meio do nevoeiro, fomos vendo chegar, da esplanada, os veraneantes locais. A rua até à praia parece uma rua de cidade, com o seu túnel e uma vereda de olmos, como se fossemos a ver as montras e, de repente, zás, está-se na praia imensa. Do outro lado da dita rua, a povoação. Uma ampla avenida a olhar o rio, aliás , dois rios, o Ur e o Narrondo; vivendas simpáticas e, frente ao cais, um simpático passeio fluvial.



o flysch!!!



Ao longo do caminho para peões e ciclistas uma zona para AC (N  43º 17’ 37’’  W 2º 15’ 1’’)   . Primeiro estranha-se (no meio da zona fabril), mas , com a subida da maré e o verde ali ao lado, entranha-se. Com água, área de despejos e grátis.  O caminho até à vila faz-se bem a pé ou de bicicleta .

(caminho até à zona AC)


De bicicleta até à praia mais próxima (Santiago) foi uma bela opção. Esta, sem rochas e sem flytches, é uma enorme extensão de areia, com umas belas ondas para os amantes de surf.
Antes da praia uma paragem obrigatória: o pequeno museu do pintor Ignacio Zuloage, um basco que viveu em Paris, contemporâneo de Lautrec, Degas e Rodin. A casa corresponde a uma capela tradicional basca votada ao mar e à pesca, e duas salas , uma delas o antigo atelier do artista, com coleções e obras suas e também desenhos de Goya e uma escultura de Rodin.





Contrariamente à espanhola que saía do museu-casa irritada pela insignificância da coleção, (“não há nada para ver”, disse), a mim agradou-me a simplicidade e o ar familiar do espaço. Cá fora um jardinzito… deixei-me seduzir pela pacatez e pelas teias de aranha artísticas.





Depois da visita ao museu restava um mergulho nas águas sempre surpreendentes do Cantábrico. O sol às vezes abre e sorri.
(Disseram-nos  que chovia sempre ao fim de semana no país basco, e o sol abriu…. Claro, ainda só era quinta-feira…. Os bascos é que sabem!)