domingo, 30 de novembro de 2014

Água da chuva e lagos com água esmeralda

Neste outono invernal de 2004 a chuva tem sido abundante. Também o foi na Croácia, mais precisamente no dia em que visitámos o Parque Nacional de Plitvice- Jezera…  por incrível que pareça  foi em agosto.


Este Parque,  classificado como Património Mundial da Unesco, é algo de singular e inusitado. A poucos quilómetros da capital e em direção a sul, mais exatamente às praias de Split, este espaço verde e cheio de cascatas parece ter sido retirado de um canto africano e colocado ali.


As cascatas são às dezenas, algumas com muitos metros de altura ( a maior delas com 78); os lagos que ali se formam, em diferentes andares, rondam os dezasseis; os seus tons verdes, azulados, esmeralda, e outros que tais têm variadíssimas extensões…. Alguns, de tão largos e profundos são possíveis de navegar em barcos e, mais uma vez, entramos num estranho mundo retirado da ficção e ali colocado.






A cascata maior (os pontos coloridos correspondem à fila de turistas)

Parece que a sua posição geográfica , as suas particularidades climáticas, a confluência de rios subterrâneos, o calcário residente são algumas das caraterísticas que estão na origem da  sua inusitada e singular beleza.
Também a flora e a fauna são únicas e diversificadas, desde à mais pequena planta ao grande urso que afasta turistas e pernoitas de, por exemplo, autocaravanistas.



Infelizmente, num dia em que o céu não dava tréguas atirando cá para baixo quase tanta água como aquela que nos rodeava, a visita não foi tão fantástica como havíamos sonhado.
Percorrer terrenos húmidos, passadeiras molhadas entre lagos, no meio de filas e filas de turistas (sim, porque mesmo a chover o parque continuava a receber centenas de visitantes nesse dia…), com máquinas fotográficas, capas, guarda-chuvas  não foi nem tarefa fácil nem tão pouco o cúmulo dos prazeres.


É claro que nem a chuva lhe retirou a beleza e a magia, mas decididamente um dia de sol teria sido ouro sobre aquele azul.




A caminho de Split e da costa mediterrânica repleta de praias (o nosso plano seguinte) , a pernoita teria de se fazer mais adiante,  uma vez que ali era proibido , especialmente porque os ursos surgiriam depois das 23 horas.



A boa noite de sono ficou-se em Korenica, a única localidade na Croácia onde conseguimos dormir sem pagar, mais propriamente no parque de estacionamento do café restaurante Bistro Marine. O restaurante devia esperar que degustássemos o maravilhoso leitão assado tão típico dos locais montanhosos da Croácia, mas não praticámos essa amabilidade. Outros o fizeram certamente porque o pequeno parque ficou cheio de autocaravanistas  (N 44. 74707  E 15. 70464).




domingo, 16 de novembro de 2014

Basta um rio para tudo mudar



Caros autocaravanistas,

Já vos aconteceu sair na vossa AC para um sítio perto de casa e ficar fora apenas uma noite?
Às vezes é quanto basta para refrescar as ideias e recarregar baterias, uma expressão parva , mas que todos usamos.
Às vezes até já me aconteceu – respondo eu à falta da vossa resposta – ficar quase ao lado de casa, nem vos conto …
Desta vez foram quase 90 km até ali, no início do ribatejo, nas várzeas de lama e arroz, frente ao rio Sorraia, terra das pontes coloridas, Coruche, pois então.
O rio é o suficiente para a paisagem adquirir outra cor, outro cheiro ( e até paladar, que o diga a nossa cadela que se atirou lá para dentro enquanto o diabo esfregou um olho).



A paisagem , graças à intervenção ribeirinha foi requalificada, a “marginal” ao longo do rio tem gente a caminhar, a correr, a pedalar, tem gente na água “canoando” … foi assim ontem a meio da tarde enquanto o sol timidamente espreitava.



E hoje de manhã um “fishing” com gente apetrechada até às orelhas de material piscatório. Na noite de ontem os homens de Coruche discutiam pesca como quem discute futebol, à beira da tasca chamada “A tasca”, onde a imperial imperava e estalava “estupidamente gelada”. E o leitão à bairrada também estalava , levado para dentro da AC no conforto do quentinho…
Hoje de manhã , dizia eu, enquanto os homens pescavam , ficámo-nos pela rota pedonal: o percurso da Cegonha. Não a vislumbrámos, mas enchemos o olho com o sol a aquecer-nos as costas e as cores outonais a bater nos campos e nas águas.





E para dormir? Uma área de serviço no campo da feira , com água , zona de despejos, tranquilidade e ao que parece, internacionalmente conhecida: por belgas, franceses , ingleses e estes portugueses que por lá ficaram… com uma diferença , nós regressámos 24 horas depois a casa, eles, tenho a certeza que ainda lá continuam… júbilos de quem é “jubilado”.

domingo, 9 de novembro de 2014

Finalmente Croácia!!!


Dia 18


Tantos quilómetros para chegarmos à Croácia e, repentinamente, num abrir e fechar de olhos, passa-se a Eslovénia e já lá estamos. Os campos não assinalaram diferença, nem as estradas, nem a língua, nem os sinais de trânsito.
Só notámos no pagamento da autoestrada (porque na Eslovénia um selo chega para andar à vontade por todas as autoestradas e na Croácia o pagamento é como em Portugal, com a agravante de ainda não termos kunas, aceitarem euros para depois ficarem com o troco…).

Zagreb era ponto de passagem e,  como capital do país e porque somos curiosos, merecia uma visita. De poucas horas, pois o GPS e as vicissitudes não nos permitiram mais tempo. Em primeiro lugar o GPS não estava ainda configurado para o novo país (esquecimento nosso) e demorámos a encontrar o Autocamping Plitvice ( este conceito de autocamp é algo croata, cuja indicação já trazíamos de casa e que se veio a concretizar ao longo da viagem. São campings mais baratos do que os outros que possuem estrelas. Alguns num estilo bem familiar numa quinta ou terreno privado. Ao longo da viagem desenvolverei o assunto). Este, na periferia de Zagreb, era em tudo um camping com wc e as comodidades higiénicas habituais e ainda um motel ( N 45´46 25  E 15 52 40). Ficava longe da primeira paragem de autocarro para o centro e, vicissitude nº 2, naquele dia era feriado, pelo que tivemos de andar a pé até à localidade mais próxima ( Locko) porque nem todos os autocarros circulavam.

 Antes, porém, de chegarmos ao camping, ainda experimentámos estacionar mais perto do centro e, de facto, as ruas estavam desertas, pelo que desconfiámos logo que seria dia santo ( era Dia da ação de graças, 5 de agosto), mas sem termos a certeza de segurança, optámos pelo camping, até porque para pernoitar não seria muito indicado fazê-lo num quarteirão qualquer do centro da capital.


O sistema de transportes em Zagreb é variado, prático e moderno: autocarros até à central vindos dos bairros e lugarejos periféricos e, já no centro, um comboio ou metro à superfície. No entanto  devido a ser feriado e a uma obra no centro da cidade, tivemos de mudar em várias linhas , tirar dúvidas ( logo ali nos demos conta que falar em inglês nem sempre resulta porque só alguns o fazem; nem todos os jovens , por exemplo, sabiam falar inglês…), pelo que , chegámos ao centro perto das 16.30.

Logo à entrada sobressaem os grandes e numerosos museus que proliferam na capital croata. Tudo encerrado. Com o par de horas que tínhamos pela frente também não podia era o dia propício. Ficámo-nos pois pelo centro , andando um pouco às cegas, sem guia oral ou escrito, seguindo as setas e a intuição. 



A primeira grande praça (Tag) e o ponto de encontro da cidade é a Bana Jelaica. Sem especial beleza, alberga uma mistura arquitetónica de edifícios e uma estátua de imperador ao centro.

 Praça Bana Jelaica


Dela parte-se para a procura da catedral, visível ao longe devido às suas duas magníficas torres brancas e pontiagudas. É a catedral de Santo Estevão no seio de um largo simpático e sossegado. Estávamos na chamada Donji Garda, ou seja, a parte baixa da cidade.



Foi aí que, mesmo sem guia, depressa nos encontrámos na rua mais caraterística, simpática e animada da cidade: a Tkalciceva, a rua dos bares, esplanadas, lojas de artesanato e galerias. Antes disso, ainda o teatro, em cartaz o velho e polémico Brecht (ainda vozes comunistas ? ) ; num recanto de uma rua estreita, o bar Tolkien. Foi, no entanto, na rua dos bares que assentámos praça para travar conhecimento com as pivo croatas (cerveja!!!) e o milho assado e crocante…
















 Começando a subir, depois de passarmos por S. Jorge e o dragão, (uma subida pacífica) fica a Gornji Grad, a cidade alta. Entre uma e outra, resta ainda a porta de Pedra, centro de peregrinação sagrado, onde se encontra um altar, assim quase no meio da rua, estranho e silencioso. A reverência ao local era grave, só mais tarde soubemos que a imagem da Virgem que ali se encontrava surgiu como que por milagre depois de toda a cidade ter sido basicamente consumida por um incêndio no séc. XVIII.




A partir dali estamos na parte medieval da cidade, na qual se destaca a igreja de S. Marcos, ícone da cidade devido ao telhado invulgar e colorido da mesma. No seu centro, o brasão de armas da Croácia. A paisagem lá em baixo, vista de alguns terraços é fotogénica, o jardim que liga a parte alta à baixa tinha o seu ar natalício, o que em pleno agosto não deixava de ser curioso.



Chegamos depois, já em baixo, à rua das montas, a Ilica, igual ou idêntica a muitas outras cidades europeias, fechadas ao comércio naquele dia e uma ou outra praça com turistas, consumindo.
Afinal, o par de horas de que dispúnhamos parece que foi suficiente; uma visita relâmpago a uma cidade que não é fascinante, mas ainda assim com algum encanto. Provavelmente porque o ambiente naquele dia também seria demasiado pacato …




sábado, 1 de novembro de 2014

Bled, um lago 3D?

Dia 17

O encanto esloveno era tanto que decidimos não partir logo. O lado Bled, uns 54 quilómetros mais a norte, não podia ser uma página em branco. E ainda bem que não foi.

Lembram-se daqueles postais dos anos 70 a 3 dimensões que emitiam um barulhinho quando se passava com a unha? Assim, com paisagens de contos de fadas e às vezes cisnes? 



É isso mesmo, estou a falar do lago Bled.
Aquele que é conhecido pela sua icónica e minúscula ilha (a única dos eslovenos) situada num pequeno penhasco, no centro do lago. No seu interior uma pequena igreja aonde se chega subindo uma larga escadaria. Diz a tradição que tocar o sino e pedir um desejo é ponto assente.



Só tem acesso através de uma barcaça tradicional ( a pletna),  quem sabe em pé numa prancha (?),  mas cá de casa chegou-se a ela atravessando a nado o calmo e suave lago. Esqueceram-se foi de tocar o sino… provavelmente porque ainda levavam nas mãos um bola de polo…




 pletna


Travessia a nado

Para além da ilha o outro ponto turístico é o castelo de Bled, no topo de um gigantesco penhasco à entrada do lago.


Apesar da ilha e do castelo o mais fascinante é todo o enquadramento paisagístico, a calma que emana do espaço, as cores fantásticas, as águas cercadas por uma vegetação linda de verde, a transparência e limpidez do espelho de água e ainda o ambiente relaxante e único.


Os banhos são divinais, que temperatura de água mais amena… podendo o mergulho fazer-se em qualquer uma das praias existentes… nós fizemo-lo em mais do que uma, com direito a travar novas amizades (da longínqua Singapura) e tudo graças a uma bola de polo…






 A volta ao lago faz-se numa hora para quem ande sem parar, para quem, como nós, tomava banho em todas as praias foi percurso para toda a tarde.




Chegados ao final do círculo e ao ponto de partida, nada como provar a relíquia da doçaria regional, uma fatia do ancestral bolo de natas e baunilha, o bolo de creme de Bled! De comer e chorar por mais!


 Repito: lembram-se daqueles postais dos anos 70 a 3 dimensões que emitiam um barulhinho quando se passava com a unha? Assim, com paisagens de contos de fadas e às vezes cisnes ? O lago Bled é um postal real , cópia de um desses postais e com direito a cisne à séria e não a 3 D mas a 5 S(ensações)!!!


Estacionámos no centro de Bled, num parque para carros e autocarros ( 5  € , até às 17 horas) , dispensando o parque frente à praia onde se pagava o dobro e já não havia lugar.
O dito parque vai perdendo clientes ao fim do dia e foi para onde fomos perto da hora do jantar e aí pernoitámos até às 7 e tal (pagámos 10 €, à noite uma senhora surgiu a cobrar bilhete). (N 46º 05. 952  E 014º 31. 094)
Do outro lado do parque fica o camping e à frente, como não podia deixar de ser, mais uma praia lacustre.
Para fechar o dia, mas não com chave de ouro, o céu quase que nos caiu em cima, como diria Astérix, com uma trovoada imensa que durou quase toda a noite.