domingo, 10 de maio de 2015

Recantos saloios



Aqui há uns anos atrás fomos ao nosso primeiro encontro de autocaravanistas. Eram mais de 50 autocaravanas Sky e a fila de "casinhas" brancas com motivos azuis , numa estrada entre Tomar e a barragem Póvoa e Meadas, foi a imagem que me ficou na cabeça.

No fim de semana passado fomos ao nosso segundo encontro, desta vez já sem Sky e sem rolar por estradas em fila, porém com o objetivo de inaugurar a área de serviço de Mafra e de estarmos com os nossos conterrâneos, também eles amantes de viagens em AC. Iniciativas desta são sempre de louvar, principalmente porque a resistência de certas freguesias e câmaras a esta forma de turismo continua a ser grande, assim,  cada área que se consegue é mais uma batalha ganha. 











A área de Mafra fica no antigo espaço de uma escola primária centenária, por isso, no pátio onde outrora crianças corriam, agora há uma zona de despejos e 3 ou 4 lugares para AC. A escola é a  sede do Clube Autocaravanista Saloio.



É claro que o encontro não albergou na área todos os participantes, nem metade lá cabia, o espaço onde ” morámos” estendeu-se pelo parque de estacionamento do Continente, assim à partida uma coisa impessoal e sem beleza especial.
O almoço, no dia da inauguração da área, foi brindado com discursos e um moscatel de honra e , claro, não faltaram os grelhados, por conta de cada um. 



Ao final do dia, a rimar com o ambiente e cenário saloios, um passeio salutar, a pé, até à aldeia típica de José Franco.  Esta aldeia é fruto do trabalho e sonho de um oleiro da terra, que aqui ergueu nos anos 50 este museu ao vivo com figurinhas de barro e profissões do seu tempo; uma aldeia em forma de presépio, um retrato em miniatura do Portugal daquele tempo. Pena que, uma visita que é gratuita não mereça a consideração por parte de muitos visitantes que em pequenos gestos, como beatas no chão, não pagam da mesma moeda a quem tão dignamente os acolhe. Merecia haver um preço fixo em vez da “garrafinha” de esmolas à saída, até porque, dessa forma,  talvez se pudesse contribuir para uma reforma no espaço que já vai sendo necessária.






A ida à aldeia era perto e bom caminho, já o mesmo não sucedia com a histórica vila de Mafra. Uns bons três quilómetros fizeram-nos desistir de ver de perto o grande bloco de pedra branca, ex-libris e cartão de visita da vila, o Palácio Nacional de Mafra. Além disso, a visita não seria novidade, noutras andanças que não estas viagens de casa às costas, a mesma já se realizou e bisou. Deixámos, portanto, de parte, o grande monumento mandado erguer por D. João V para pagar a promessa da gravidez de D. Maria Ana de Áustria , sua esposa e rainha, e dedicámo-nos a um espaço mais aberto, igualmente fruto caprichoso de sua magnânima Majestade. Refiro-me ao seu espaço particular de caça e de veraneio, as dezenas de quilómetros de terra intitulada “Tapada de Mafra”.

Flora e fauna constituem uma riqueza tremenda, tudo visitável e podendo ser usufruído por qualquer cidadão, em todo o tipo de visitas: pedestres, em comboizito, em carro elétrico, com guia ,sem guia. 






Logo à entrada, no parque de estacionamento, uma hospitaleira receção com um farto javali habituado a conviver com seres de duas patas. O nosso serzinho de quatro patas teve de ficar encerrado na casinha, o instinto de caça é mais forte e ainda por cima o javali chamava-se Bacon…




Optámos pela visita mais rápida – de carro elétrico – e tivemos o privilégio de uma visita VIP… éramos os únicos clientes àquela hora…

Os habitantes do parque são  várias espécies : aves de rapina (e espetáculo que não vimos, há horas específicas para o efeito e não coincidia com a nossa) , muitos e muitos javalis , sobretudo crias fofinhas vestidas de pijama às riscas; veados e gamos (infelizmente vimos apenas três , um deles que se deixou afagar, coisa rara segundo o guia… é  o meu jeito especial para animais…), texugos e cobras que felizmente não vimos.


O meu amigo gamo.




Ao lado do pavilhão de caça real , uma olaia gigante com as suas folhas roxas, também conhecidas por árvore do amor (as suas folhas são em forma de coração)  ou de Judas ( diz a lenda que, ao enforcar-se numa olaia por ter traído Jesus, as folhas teriam  chorado lágrimas de sangue).




Pavilhão de caça do rei.






Outras espécies decidiram esconder-se , nem mesmo o grande sapo que habita no tanque-piscina deu o ar de sua graça.

Atraídos pela proximidade do mar, e porque apesar de querermos inaugurar a área não o podíamos fazer, só depois da atuação do rancho folclórico, partimos em busca de outras paragens rente ao mar. Em Ericeira foi passar ao largo , já que são pouco simpáticos com autocaravanas , não nos dignámos parar , esvaziámos na área de serviço de Santana Susana /S. João das Lampas e fomos almoçar a ver o rio e o mar. Logo após a praia de Ericeira, entre duas encostas, lá muito a descer, brilha  um pequeno e simpático recanto: a foz do rio Lizandro.




 As casas de pescadores estão agora a começar a ser recuperadas e à beira da praia ergue-se um conjunto de cafés e lojas para surfistas, num passadiço agradável. À beira rio já se tomava banho, tépido por sinal e a nossa Ária inaugurou a época balnear em rio. 
Depois de almoço continuou o périplo pelas praias: da Maçã e Azenhas do Mar; mais um recanto saloio, uma aldeia em socalcos qual presépio, por onde se semearam azenhas e poemas e por onde corre um riozito em cascata que cai no Atlântico. Lá em baixo, na praia, uma piscina de hotel e antes uma outra oceânica, agora creio que a ser transformada em esplanada (???).









 Casas ao estilo Estado Novo com azulejos azuis e brancos , airosas e elegantes a olhar o mar…









Para dormir, praia Grande , num parque de estacionamento, acima do hotel da piscina. Passeio noturno e matinal pelas areias longas da praia. Para fechar o fim de semana, uma chuva traiçoeira bateu nos telhados toda a noite e o domingo nasceu choramingão e sem sol.
Retornámos a casa sempre percorrendo a costa até Lisboa, num almoço rápido ao lado de outro marco histórico, aquele onde foi assassinado o general Gomes Feire de Andrade , o Forte de S. Julião da Barra.


Almoço a ver o mar , para a  despedida...