quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

E o céu quase que nos caía em cima


Carnaval de 2016




Sameiro



O que fazer quando a chuva decide cair ora estilo “molha parvos” ora ininterruptamente, nos poucos dias possíveis de férias?
Como passear debaixo de chuva ou como estar dentro de uma autocaravana com chuva lá fora, quando cá dentro não são dois, nem três,  mas sim quatro e uma cadela ?
A solução é partir na mesma porque a viagem só pode acontecer naqueles dias e ficar em casa é impensável. É aproveitar as abertas ou andar debaixo de chuva com chapéus de chuva e afins. É dedicarmo-nos a outros passatempos como “Jungle Speed”, filmes ou té mesmo estudar ou corrigir testes.
Em cinco dias muitos “projetos “ falharam, mas algumas expetativas realizaram-se. Falhou a ida para Eco resort do Rossim, em pleno coração da Serra da Estrela. Havia enviado um email antecipadamente e tiveram a amabilidade de me explicar que se realizaria nesses dias um encontro de motards no espaço que eu sonhava calmo e idílico. Optámos por outro camping, apesar de eu não ser fortemente adepta dos mesmos: o do Sameiro a meia dúzia de quilómetros de Manteigas e bem inserido em plena natureza. 




Quase vazio, uma família em tendas e roulottes , duas AC. Fora estes, o restante camping já está transformado em bairro de roulottes e barracas , o habitual em Portugal. 





Estupidamente (porque a receção estava fechada e ninguém aparecia, creio) , pagámos 16 € na receção do Parque Ski para ter luz e água. Uma água e uma luz bem cara! Nada de rede quanto mais net, nem tv, nem casa de banho , apenas sanitas sujas e água gelada nas torneiras. Para parque que devia assistir os viajantes amantes de neves nada vimos…
As expetativas realizaram-se: a temperatura desceu, durante a noite nevou… enquanto subíamos a serra , no dia seguinte, uma mão gigante havia salpicado as montanhas de farinha. Mais à frente, já nas Penhas Douradas, a farinha transformou-se  em manto branco e já parecia natal novamente em vez de carnaval. Brincámos pois, disfarçados de friorentos apesar de o termómetro marcar apenas um grau que não chegava a negativo. A cadelita ficou feliz a confundir-se com o branco da alcatifa e nós também.









Antes

Depois

Nova surpresa uns quilómetros mais abaixo já em Seia: uma feira de queijo e enchidos com gente, cheiros e música alegre dos Pauliteiros de Miranda. Acompanhada de vinho tinto e arroz de entrecosto com pimenta, a coisa compôs-se. Ah ! E a chuva parou.






Só depois de muitas curvas, já fora do perímetro da Serra da Estrela , ali a meias já com o Açor, é que a nossa perseguidora voltou. Nós a pararmos na tão divulgada ASA de Barril de Alva e ela a chegar novamente. Felizmente a “molha parvos”. Estreámos pois o Barril, mas como estreantes não tivemos a sorte de ser batizados pelo Presidente da Junta . Passou sempre quando não estávamos e olhem que por lá pernoitámos duas noites! Numa das manhãs ainda deu para ver o rio ( o Alva, claro!) e a aldeia. 



Adiámos a ida à praia do Urtigal para o dia seguinte e foi asneira, nestas coisas do tempo há que aproveitar a aberta , no dia seguinte nunca se sabe e naquele que chegou só se soube a lama do caminho…
O “projeto" de conhecer as 5 aldeias do grupo Açor não foi adiado , mas ainda assim não se realizou totalmente. Percursos pedestres, nem vê-los , quanto mais fazê-los… Ficámo-nos pela Aldeia das Dez e Benfeita com a casa às costas. A primeira revelou-se pouco interessante. Com chuva e quase deserta foi um assombro de desolação e solidão. 



Já Benfeita sorriu um pouco mais e tudo porque se na primeira o xisto era inexistente na segunda lá foi surgindo nalguns pontos:  ao lado da cascatazinha do rio e praia fluvial e na altaneira torre da da Paz, aquela que no dia  7 de maio de 1945 anunciou o fim da guerra. Ainda hoje assinala essa data tocando naquele dia 1620 badaladas.  


O título “Aldeias de xisto”, já se vê, não estava em alta por estas bandas, a pouco menos de 30 quilómetros, em Piodão , já se sabe, o título cairia que nem uma luva  mas a chuva e a falta de coragem para enfrentar tanta curva em AC ainda não foi desta que se venceu.
Com pouco xisto mas todas elas banhadas pelo Alva e rejuvenescidas pelas suas praias fluviais ( no verão, pois então) ainda revisitámos Avô e Coja, esta última de todas elas a  mais animada e movimentada. 


Avô




Coja

No dia de entrudo ainda mantém o seu desfile do qual apenas ouvimos os ecos do seu ensaio na manhã de terça-feira, na vizinha Barril.
Curiosamente o nome Barril relaciona-se com a chuva:  num dia de grandes cheias, vários barris eram arrastados pelas águas do Alva e foi então que um moleiro, ao conseguir levá-los para a margem, atingiu o feito de fazer com que a produção de vinho desse ano aumentasse.  
O Alva lá estava, o moleiro não vimos, o vinho só se o comprasse, mas o barril jocosamente  lá estava…



Também a fonte lá está, assim como a homenagem a Torga e ainda o restaurante Guarda-Rios, mais uma nota simpática na paisagem com ementas muito em conta, net quase a chegar ao parque das AC e luz por 1€ dia.
Depois da partida, faltava Góis, outro destino alegre no verão, agora sem vivalma e uma miragem daquilo que foi… Numa aberta ainda deu para uma breve espreitadela da praia fluvial.


Faltava Coimbra para a última noite. As águas corriam, quer da chuva quer do Mondego, e pensar que em janeiro tudo galgaram até chegar ao mosteiro  de Santa Clara , ainda a recompor-se devagar da invasão.


 A chuva aumentou, nem apeteceu um salto à Briosa e logo por azar a sorte não sorria mesmo: comer uma francesinha no café Atenas foi mais um projeto adiado, o dono devia estar a brincar ao carnaval…



Fica para a  próxima, assim como sol , assim como o passeio. A chuva veio para ficar e acompanhou-nos até casa, valha-nos a páscoa, a tradição não pode falhar.

2 comentários:

Unknown disse...

lindo o relato, até fico envergonhado a pensar que não sai pelos mesmos motivos,chuva,chuva, chuva.

António Resende disse...

Ora pois... aquela cena do /Sameiro/podia bem ser evitads ja que ali pertinho em Manteigas... net teriam... sem sair da toca... kkk