segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Paragem no tempo

 11 e 12 de agosto

Rothenbourg ob der Tauber; “ um museu da Idade Média a céu aberto”, diz o Michelin; “ uma cidade conto de fadas”, afirmam os tabloides publicitários. Um e outros não mentem, R. é tudo isso mais um texto cheio de adjetivos e uma memória carregada de emoções.
Rothenbourg é um palco ao vivo, um cenário de filme sem necessidade de efeitos especiais. Só falta, à exceção do guarda-noturno, andar tudo vestido com figurinos da época e acreditaríamos ter recuado no tempo. Ah! E retirar os carros das ruas e praças apesar de, ainda assim, dar graças à variedade e criatividade de outros meios de transporte…



Logo à entrada, ainda atravessando os campos verdes vindos de Bad Margentheim, um cenário de outra tipologia de filme, do género saga de zombies: os resquícios de um Festival de rock, qual Sudoeste português, com campos forrados de lixo, w.c. portáteis, tendas, sapatos abandonados, roupa…
Chegados a Rothenburg há duas ofertas de parques de estacionamento para AC, um a norte , outro a  sul. Aleatoriamente escolhemos um , 10 € dia em qualquer deles (N 49º 22´14´´  E 10º 11´00´´ ), sossegado, confortável.
Depois de alojados, não havia tempo a perder tal não era a adrenalina aos pulos pedindo para visitar o burgo. A porta (das múltiplas existentes) estava aberta, aguardando-nos. 


E, tal como o nosso íntimo nos dizia, não encontrámos um ponto feio (talvez os preços, o que para bolsos portugueses não será de espantar…). Cada casa tem um atrativo: ou a cor ou as flores ou as madeiras que as adorna, ou a porta ou as janelas; cada rua apetece ser calcorreada ; 







A casa do ferreiro, uma das mais antigas.




os estabelecimentos comerciais não se limitam a ser banalmente turísticos, alguns há com um toque bem pessoal e criativo; 



as praças – naquele dia banhadas de luz e cor – dão vontade de estar e ficar, estarrecidos a contemplar como a beleza às vezes dói porque o Homem é também esta máquina imensa , criadora de beleza e esplendor. Quer-se estar e abarcar o todo começando do ponto mais pequeno ao maior, com as mãos, o olfato, o corpo todo e aposto que (ao escrever isto  lembrei-me de Álvaro de Campos…) Fernando Pessoa nunca ali esteve. Mais perdeu, porque eu senti-me mais viva, ali sentada na Marktplatz, um local único, tão especial que não admira que naquele dia fosse o eleito para o “grande dia”, com a Rasthaus de cenário de fundo ou, ao norte da praça, o atual edifício do turismo , outrora o albergue reservado os notáveis, de seu nome Ratstrinkstube, e ainda hoje admirado pelo seu duplo relógio, o de sol e o animado , a dar o ar de sua graça às horas certas, das 11 às 15 h.



Noiva "in red"...



Rasthaus



Relógio com e sem figuras animadas. 



Na rua Herrngasse ergue-se a maior dose de hotéis, todos com aspeto elegante mas sóbrio, e,  para espanto de qualquer época do ano, mormente o verão, as  duas grandes  lojas-museus de Natal. Entrámos na já conhecida “ Käthe Wohlfahrt  “ ( lembram-se da Alsácia uns dias antes?) , lamentando mais uma vez não termos uma Merkel a pagar-nos o vencimento…


Se as ruas, ruelas e praças não mostram um local ou ponto que se apelide menos bonito, a cidade-museu tem ainda um outro ingrediente para a tornar excecional: a sua fortificação circular originária dos séculos XIII-XIV. 



O tempo recua outra vez e sentimo-nos personagens da Guerra dos Tronos, qual John Snow, percorrendo passadiços, escadas e muralhas interiores felizmente sem neve e sem zombies, apesar de às vezes os nossos olhares indiscretos entrarem na intimidade dos vizinhos que, p´la calada da tarde, vêm ao terraço regar as plantas…


( O senhor que nos desculpe a indiscrição...)

Não sei quantas vezes percorri as mesmas ruas e tirei fotografias a esta casa, uma das mais fotogénicas da cidade a avaliar pelos panfletos, 

o certo é que se pudesse voltar atrás, achar-me-ia no mesmo local a desejar voltar séculos atrás para ver o guarda-noturno verdadeiro, o Pai Natal e as renas, os trovadores, o rei e toda a corte, fosse verão ou inverno, com neve nos telhados ou sol e cerveja na praça…


(todos os finais de tarde o guarda-noturno conduz visitas guiadas)



Chega de devaneios porque Rothenburg ainda lá está e qualquer viagem de avião pode levar-nos até lá num fim de semana perto do Natal. De certeza que a vestimenta será outra ,mas ela continuará com aquele ar de conto de fadas a céu aberto, parada no tempo, vestida de dama da Idade Média. 

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