sábado, 8 de outubro de 2016

A quantos tons?



Quando a alma e o corpo precisam (ou seja, quase sempre) e só temos pela frente um breve e efémero fim de semana (ou seja, muitas vezes), o melhor é partir… nem que seja para perto.


O nosso perto fica a 55 quilómetros de casa e tem sido, volta e meia, a nossa “quinta”. Já o foi no Outono (no novo acordo com minúscula, mas não gosto, ponto final), já o foi na Primavera (idem), no Inverno (mais do mesmo), exceto (aqui o “pê” não fazia mesmo falta) no Verão porque não convém… e não convém porque se trata do Alentejo e nele não há sombra que venha do céu.



No Outono, depois de o sol ter estalado a terra, impera o seco e o dourado , mas, felizmente, ao lado , a água do grande lago é sempre azul. O céu não… ou talvez sim. Umas vezes é azul, outras tem riscas de pijamas brancas ou pinceladas rosas ou algodões à espera de se transformarem em chuva. 





E, às vezes, o céu da “minha quinta” é atravessado por estranhos “pássaros” coloridos que nos acordam pela manhã, com um som de quem acende um fogão gigantesco.







Se os céus se enchem de pássaros e se cada um canta de seu modo, uns com som de gás outros a musicar trinados, das águas, volta e meia, há um “splash” de uma carpa ou achigã, que decide vir espreitar o céu. Ou ver passar um barco-cruzeiro, ou a barcarola de madeira, ou as  pessoas que no final de Verão, início de Outono, mergulham no azul porque as águas ainda são tépidas quando lá fora estão 32 graus.


No final do Inverno, mesmo com chuva e a terra empapada, a natureza quer mudar de tons. O verde espreita nas ervas ainda rasteiras mas já verdes, à espera da flor, do sol, do calor. Escurece cedo, a friagem vem e, de noite, o frio tapa tudo. Mas dentro do teto da nossa quinta, na noite ade breu, está-se bem.

Na Primavera, a terra pinta-se de novas cores. É a vez da bonina espalhada pelos verdes que já cresceram e quase chegam ao degrau da porta. Já há entretanto quem tome banhos nas águas do lago, apesar de ainda frias.




Entre tons e sons, há ainda a imensidão do silêncio , entrecortado pelo salto da carpa, o carro que passa e levanta o pó, o barco a motor, ou os sininhos a trote.

É a nossa “quinta”, no Alqueva, pois então!