quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Comillas; costa da Cantábria Um capricho e tanto…



Esta costa é também verde e azul, uma continuação das Astúrias mas com outro nome. Desde San Vicente de la Barquera (onde se comem boas mariscadas) até Castro Urdiales (onde as tapas ou “pintxos” nos acenam), sucedem-se as rias, golfos e magníficas praias.

Neste ano, as atenções centrar-se-iam em Comillas, um agradável centro de veraneio, tranquilo, onde muitos espanhóis devem bisar os seus períodos de férias, alternando praia e campo, verde e azul, calor e chuviscos.


entrada para ???

A nós, Comillas lançou-nos o anzol, não pelas praias e águas, mas pelo lado histórico e cultural, mais especificamente três edifícios históricos extremamente completos, um perfeito triângulo arquitetónico.

De imediato, soa e ressoa nesta pequena cidade airosa e brilhante, o nome de um marquês , o de Comilllas (precisamente !) , o qual projetou este “pueblo” por todo o país. No alto de uma colina, ao lado do cemitério* , que subimos por mero acaso já que estacionámos lá perto (não é fácil estacionar e pernoitar na vila, a “marginal” não permite a pernoita e aquele cantinho relvado foi um “achado”, apesar de à noite , num parque de estacionamento mix,  ter verificado que muitas casinhas rolantes por lá haviam dormido), demos de caras com o Marquês admirando os palacetes em volta e o mar ao fundo. Esta estátua foi uma homenagem do povo de Comillas, em 1889, e ali se ergueu para que  o Marquês pudesse contemplar o mar e  esperar os seus barcos ( foi o fundador  e grande empresário da Companhia Transatlântica espanhola).





local de estacionamento e pernoita 


Estátua Marquês de Comillas


* Também este, uma estranha construção conduzida por um anjo, assente no verde e sobre umas ruínas góticas, fronteiro ao mar, merece uma visita. Estranho, diferente, misterioso…


cemitério



Porém, o primeiro dia estava destinado para relembrar Gaudí, nome que, no fundo , era o nosso “guia” e motivo de visita, apesar de o Marquês nos perseguir ao longo de todas as visitas.

O famoso arquiteto catalão "veio"de Barcelona até este cantinho perdido, para dar corpo ao capricho de um amigo, o pintor, músico Máximo Díaz de Quijano (e também advogado do Marquês, pois então…).

 O capricho idealizado por Máximo era uma mansão simbólica e escondida no seio de um profuso jardim, à qual Gaudí deu forma e cores, explorando  motivos florais e musicais. O resultado foi uma inusitada mansão com sua estranha torre, explosão de cores e formas neomudejares modernistas, única, à maneira de Gaudí. E assim se chamou “ El Capricho de Gaudí"(1883-85).





A fachada, verde e amarela, com colcheias e outras notas musicais de ferro entrelaçadas pelas varandas panorâmicas e um “tapete” de azulejos formado por filas e filas de girassóis (são quase 2.000 azulejos feitos à mão sem que um seja igual a outro) é, por si só, um quadro único. Segundo os críticos, o nascimento do modernismo…




É claro que não se resistirá a colocar um pé à frente do outro e penetrar no pórtico de entrada, com quatro colunas decoradas com folhas de palmeiras e pombas. Mais um passo e entra-se no magnífico hall , onde a natureza continua por entre vitrais.

Na realidade, as divisões estão quase despidas de móveis (Máximo não chegou a habitá-la porque morreu no ano em que a mesma foi concluída , foi passando de herdeiro para herdeiro, até acabar  abandonada décadas para em 1992 ser explorada como restaurante e  somente em 2009 passar a ser museu visitável.),  mas não é por isso que a visita perde valor.
 São três pisos singulares concebidos para um só morador: o térreo, como área de residência do advogado, com sala, quarto, w.c ( até é este é único, sobretudo pelo seu vitral “musical” e caleidoscópico), sala de convívio, escritório e estufa de vidro com teto elíptico (Ah! Como apetece sentar e sonhar, numa tarde dolente, bebendo chá e lendo um bom romance…). No sótão, as dependências para a criadagem e uma cave onde estariam as cozinhas, hoje espaço para a loja e livraria.



Estufa



sotão



vitral - casa de banho


 Para além dos pormenores simbólicos associados à música e natureza , outras curiosidades espreitam  (mas para isso o melhor mesmo é entrar-se com visita guiada) , como as venezianas “musicais” e todas com particularidades curiosas: uma que abre como um livro, outra que forma uma espécie de rolo, outra que emite sons e músicas e tudo concebido em função da luz solar e das horas das rotinas diárias, como se a casa rodasse à procura da luz.

Circundante, o jardim tem ainda uns recantos curiosos , como uma gruta artificial , a estátua de Gaudí ou o seu centro em forma de ferradura. 


Sair dali e entrar no mundo real pode ser um estranho embate… fora dos portões, os carros continuavam a circular, os veraneantes a caminhar, os gelados a chamar na praça Corro Campíos…


Apetecia mais Gaudí, e a solução foi seguir as setas até à casa Moro - sabia bem entrar, mas esta não se converteu em museu, por isso só nos restou admirá-la e perceber Gaudí apenas na portada de três entradas, a maior para os carros, a média para as pessoas e a circular superior… a “Porta dos pássaros”. Uma vez mais a natureza, as pedras, as casas… caprichos tornados reais.



1 comentário:

Decarvalho disse...

EXcelente. Vou aproveitar este Agosto de 2017. Obgdo