sábado, 4 de março de 2017

Monsanto, a “Aldeia mais portuguesa de Portugal” ou simplesmente “aldeia histórica de Portugal” ?




Surpreendentemente, será esta a primeira vez que escrevo sobre Monsanto (será ?) , apesar de inúmeras vezes ter subido encosta acima até àquela rude força da Natureza e do Homem.

Lembro-me que, da primeira vez – era ainda uma jovem adolescente de 19 anos –, o embate foi colossal. Senti-me esmagada pela força dos elementos, pelo cheiro envolvente (cheirava a vacas, porcos, estrume, ervas), pela rudeza, pela pobreza. Logo à chegada, uma velhota pediu-nos se lhe podíamos colocar umas gotas na vista e levou-nos a sua casa. A solidão que espelhavam ( a  velha e a casa), a escuridão da pobreza, a vontade (dela) de conversar com jovens, era algo de tocante. Nunca tinha viajado para longe dali, o mais longe que conhecia era a vizinha Penha Garcia.

Tantos anos depois, cada vez que subo a escarpa, lembro-me da velha. Desta vez também. Não estava lá à entrada da aldeia. As pedras e as casas eram as mesmas. As pedras-casas!





Também naquela época, admirei Fernando Namora por ali ter vivido e, certamente, ajudado outros a viver (ou sobreviver). O “consultório” lá continua, ou seja, a casa outrora consultório, ou seja, a lápide a anunciá-lo. Também a casa onde viveu. Afinal foram só dois anos, constatei agora.

Desta vez, o cenário envolvente era de uma neblina branca quase cerrada. Não me lembro se alguma vez lá tinha ido em Fevereiro. A primeira, sei de cor, tinha outras cores, era Agosto…

Agora, a paisagem era quase irreal, mas as pedras impõem-se, sempre. Pessoas, poucas. Alguns turistas à procura do novo restaurante. Uma nova casa apelidada de “casa Zeca Afonso”. Como se ele lá tivesse vivido…  e não, o funcionário do Turismo confirmou-o secamente : “ Ele nem sequer cá viveu”. De facto, a placa dizia que comprou aquela casa, mas não a chegou a habitar. Será futuramente um projeto dos “Amigos Zeca Afonso”.









Salazar não gostaria muito de ouvir tal, creio. O título “Aldeia mais portuguesa de Portugal”, atribuído no seu tempo e governação, tem um espinho a picar: poder-se-á ler nas entrelinhas e pensar que quereria ele, Salazar, que aquela parte do país, isolada, fechada ao mundo, despovoada, pobre, fosse a representação fiel do todo Portugal ?
Certo é que a designação persiste, apesar de outra tender a substituir a primeira: “Aldeia Histórica”, desde 1995. Monsanto faz parte de um conjunto de 12 aldeias, remotas, singulares, únicas.

Sobre o castelo de Monsanto, inexpugnável, não falo. Desta vez não subimos , a neblina tudo envolvia, o horizonte não se abarcava. Mas lá perto estava Penha Garcia, Idanha- a- Velha,  Medelim, Monfortinho e mais longe Penamacor, Sortelha , Sabugal. Fomos ainda a algumas delas, umas “históricas “ , outras não. No “capítulo” seguinte algumas surgirão…

Nota só para autocaravanistas: 
estacionámos na povoação anterior a Monsanto, num terreiro amplo, Relvas. O senhor que vende cabaças e que por lá está, disse-nos que havia muitos turistas e devia ser complicado estacionar e fazer depois inversão de marcha. Como temos a nossa “Ópala” , deixámos a casinha a descansar ( e a cadelita) e subimos de mota. Quando lá chegámos,  havia um “companheiro” estacionado, por isso , para os aventureiros não deve ser problema.