sábado, 4 de novembro de 2017

Galiza – A mão de Deus – parte III



A terceira mão de Deus, aqui representando a Ria de Arousa, revelou-se igualmente deslumbrante em termos paisagísticos.

Selecionámos dois pontos distintos, um em cada lado da mão, opostos,  mas quase olhando-se de frente; um rico pela sua história e monumentalidade , o outro pelas suas paisagens.

O primeiro, Cambados,vila considerada um museu a céu aberto, esculpida em granito, outrora rica em paços senhoriais e ruas nobres. Para além da monumentalidade , a vila é ainda conhecida pelo sabor ancestral do famoso vinho Albariño.



Será Baco ?

Admirámos sobretudo a praça de Fefiñans, onde decorria uma elegante feira de artesanato,  o seu Paço e, do lado oposto, a igreja de San Benito. 








(Aqui estacionámos, contemplando as águas )



O outro ponto serviu para retomar energias ( percorrer ruas e praças também cansa…) e relaxar. Conseguiu, como localidade, ser o local mais desinteressante e descaracterístico de todos os visitados, mas como cenário natural, composto por praias e rio ganhou a nossa simpatia. Boiro, de seu nome, praia Xardín , o local para AC ( N 42º 38’ 30’’  W 08º 53’ 49’’  ). O sítio (só depois de lá estarmos é que percebemos tratar-se do “top” dos autocaravanistas) fica do outro lado da estrada, entre a linha da praia e o rio Coroño, este último , um cenário sempre em mutação, tendo em conta as vidas das marés. 

De um lado o rio:




Do outro a praia:




Adianto já que o calor era muito, afinal na Galiza não é só chuva miudinha, por isso apetecia ali ficar e aproveitar aquela fascinante enseada rematada pela areia fina e debruada a relva. Uma espécie de “2 em 1”: praia, pinhal, podendo sempre optar-se por uma sombra ou sol, um dourado ou verde.
E tudo acompanhado de um excelente passeio marítimo, por onde esticámos vezes sem conta as pernas, a apreciar vivendas de luxo de um lado, rias baixas do outro, ao cair da tarde ou ao nascer do dia. 



Não obstante a simpatia da paisagem, conseguir um lugar para estacionar na dita área para autocaracavanas não foi fácil. Primeiro ficámos em segunda fila esperando que alguém saísse ao final da tarde, mas no entretanto, ainda tivemos de aturar a antipatia de um “companheiro” espanhol que decidiu furar a fila de espera só para ficar no lugar ambicionado. E ainda teve a ousadia e falta de ética ao insultar-nos, atirando frases xenófobas que nos enviavam de volta a Portugal. Maus ventos estes que já chegam a este grupo que na estrada acena simpaticamente e nos estacionamentos se comporta de forma incivilizada só por causa de um lugar ao sol !!!
Ouvidos de mercador para não estragar o relaxe e lá conseguimos o nosso lugar (bem melhor do que o do espanhol, por sinal!) e só depois é que percebemos o porquê de tanta procura e loucura. Supostamente, a  dita área seria paga (6 € , dia) , a emissão do ticket (estranhamente) não se faz no local mas numa rua do povoado (!?!) distante dali. Escusado será dizer que ninguém lá vai. A tarefa da cobrança passou então a ser missão da Câmara que depressa se fartou e a passou para as mãos da Polícia. Ora, este ano, parece que nem uma nem outra se interessaram pela missão , o que deu origem a que o "mexilhão" , em vez de se lixar, desta vez lucrasse de uma estadia grátis que, nalguns casos, segundo percebi e constatei, se traduziu, para muitos, em semanas. Era vê-los chegar, amigo chamava amigo e ali se fez um camping de amigos e vizinhança com almoços e jantares à sombra dos toldos e até festas de aniversário com direito a balões . .. tirando os momentos em que algum saía e outros queriam entrar e lá se gerava mais uma discussão acesa… tal como em qualquer bairro de vizinhos. 



Aviso final: à data da nossa partida algo diferente iria ocorrer na zona. A polícia veio e colocou avisos que a área entraria em obras na semana seguinte. Plantaram mais árvores e corria a ideia que iriam construir novo passeio a olhar para o rio, o que certamente roubará lugares de estacionamento. Outros diziam que provavelmente iria acabar ali o paraíso de Boiro  para autocaravanas. Desconhecemos o que sucedeu depois. Era hora de partir.